POSITIVIDADE E RESILIÊNCIA: BEM-VINDO 2022

Talvez a palavra mais proferida e escutada do último ano seja RESILIÊNCIA.

Sinônimo da capacidade que alguns corpos têm de retornar à forma original depois de terem sido submetidos à deformação elástica (conforme a física), essa habilidade – sob o viés da psicologia e da filosofia – está relacionada à capacidade que uma pessoa tem de lidar com positividade com problemas, mudanças e adversidades.

Provavelmente você conhece ou já ouviu falar sobre alguém que foi demitido, recebeu um diagnóstico de uma doença grave ou perdeu um ente querido e, mesmo assim, conseguiu se manter forte e positivo.
Mais do que superação, resiliência humana tem a ver com “entrar pelo cano e sair do cano de uma forma melhor”, numa analogia bem simplista.

Aí é que mora a diferença entra a resiliência da física e aquela aplicada no contexto da humanidade.
Não é sobre  “retornar ao seu estado original”, mas sim conquistar um novo estado, de preferência cada vez mais evolutivo.

Escolhi o tema para ser o primeiro de 2022 aqui no blog para que possamos encarar esse novo ano com mais positividade e resiliência, por isso, te convido a ler algumas percepções que tenho sobre esses conceitos. Vamos lá?

Conexão com seu propósito

Como traz a professora norte-americana Ph.D Maria Sirois, maior referência mundial em resiliência e autenticidade, por mais feliz que a gente seja, todo mundo vai enfrentar desafios, tropeços e situações ruins. Isto é, todos vamos sentir emoções negativas.

E neste vídeo ela explica claramente porque precisamos nos permitir sentir a raiva, lamentar e vivenciar algumas dores. Enfrentar a realidade é a maneira de desenvolver resiliência e conseguir sentir alguma felicidade em tempos sombrios.

Gosto muito de uma colocação que a Ph.D faz nesse vídeo sobre as pessoas confundirem positividade com esperança de que tudo seja perfeito.

Ela destaca que na psicologia positiva há sim esperança, afinal é do ser humano ter expectativa, mas pessoas resilientes não esperam que tudo saia como o planejado, mas sim que consigam encontrar seu caminho através de qualquer que seja a situação.

Também me instiga a questão levantada pela palestrante: “Quem eu sou no meu melhor quando as piores coisas acontecem?”.

Já parou pra pensar nisso?

Você consegue, em um momento de adversidade, em uma situação difícil, manter o foco no que é bom em você mesma e ao seu redor?

Para mim, a fala está muito relacionada a uma das habilidades que mais gosto de desenvolver: a conexão com seu propósito de vida.

Quando a gente consegue se concentrar nos bons momentos, nas boas experiências, naquilo que temos uma paixão que nos envolve e nos coloca em estado de flow, sentimos uma transformação intensa.

Descobrimos até que é possível chegar ao nível de cair no chão e deixar o chão em dúvida se realmente você caiu, de tão rápido que se levantou.

Além disso, é assim que conseguimos tomar uma ação consciente de fazer um presente e um futuro melhores para nós mesmos.

Resiliência e o jogo de tênis

O norte-americano Tim Gallwey ficou conhecido mundialmente por ter escrito o livro O Jogo Interior do Tênis (The Inner Game) e por ser o precursor do coaching.

Professor de tênis na faculdade, ele desenvolveu estratégias de treinamento hoje aplicadas ao redor do mundo para aprimorar habilidades pessoais e profissionais.

Em uma entrevista, Tim contou que a partir da experiência como professor de tênis percebeu que os alunos tinham muita dificuldade em executar as orientações. “Não é por que não tinham capacidade, mas por receio. Em determinado momento, passei a fazer perguntas, no lugar de dar ordens. Por exemplo, em vez de insistir para os alunos baterem na bola com a parte central da raquete, perguntei onde eles achavam que a bola estava batendo. Em pouco tempo, eles entendiam e o movimento correto saía naturalmente”.

Essa é a ideia fundamental do livro e do conceito desenvolvido por ele, (The Inner Game):

Desempenho é igual (=) ao potencial menos (-) interferências

Ou seja, na analogia do esporte com o mundo corporativo, há apenas duas maneiras de aumentar o desempenho: aumentando o potencial das pessoas que trabalham para você ou diminuindo o medo, as dúvidas, a falta de foco e o tédio.

No livro, o autor apresenta o outro lado do jogo de tênis, aquele que acontece dentro da cabeça dos jogadores e que é responsável pelos resultados na quadra.

Tim destaca que “todo jogo é composto por duas partes, a exterior e a interior”. Por meio de exemplos do jogo de tênis, o autor consegue mostrar de maneira clara e compreensível o que precisamos fazer para conquistar um desempenho de excelência tanto na nossa vida pessoal quanto profissional.

Algumas lições de O Jogo Interior do Tênis para a vida

Você sabe o que fazer: Os problemas que mais perturbam os jogadores de tênis não são os que dizem respeito ao modo correto de movimentar uma raquete. A queixa mais comum é: “Não é que eu não saiba o que fazer, é que eu não faço aquilo que sei!”

Consciência: No jogo de tênis há duas coisas importantes que se deve saber. A primeira é onde a bola está. A segunda é onde está a raquete.

Estímulo positivo: Uma das primeiras lições que aprendi como professor foi não procurar defeitos no aluno ou em sua forma de jogar. Com isso eu parei de criticar a ambos. Ao contrário, eu elogiava o aluno sempre que possível, e fazia apenas sugestões positivas sobre como corrigir as suas jogadas.

Sobre desprender a julgar 

Do mesmo livro, destaco uma breve história. Segue:

Três homens estão andando de carro, numa certa manhã, na rua de uma cidade. Apenas como analogia, suponha que cada um deles represente um tipo diferente de jogador de tênis. O homem sentado à direita é um pensador positivo que se acha ótimo no tênis e está cheio de autoestima por ser o seu jogo tão superior. Ele é também um playboy assumido, que desfruta de todas as coisas boas da vida. O homem sentado no meio é um pensador negativo que tem o hábito de constantemente analisar o que há de errado com ele e com o seu jogo. Está sempre envolvido com algum tipo de programa de automelhoria. O terceiro homem, que está dirigindo, encontra-se no processo de abandonar os julgamentos de valor como um todo. Ele pratica o Jogo Interior, desfrutando das coisas como são e fazendo o que parece razoável no momento.

O carro para num sinal e uma bonita moça, que atrai a atenção dos três homens, atravessa a rua na frente do carro. A sua beleza é totalmente aparente porque ela não está usando qualquer roupa. O homem à direita distrai-se com pensamentos de como seria bom estar com esta moça em outras circunstâncias. Memórias passadas e fantasias futuras de prazeres sensuais tomam conta de sua mente. Quando se lembra de como é bom amante, suspira pesadamente, embaçando o para-brisa e com isso diminuindo um pouco a visão dos outros. O homem sentado no meio está vendo um exemplo da decadência moderna. Não sabe se deve observar atentamente a moça. Primeiro usaram minissaias, pensa, depois passaram a dançar com as nádegas à mostra ou em topless e agora estão nuas nas ruas em plena luz do dia! Algo precisa ser feito para parar tudo isto! Ele acha que deve começar por endireitar o playboy à sua direita.

O motorista vê a mesma moça que os outros estão observando, mas está apenas vendo o que tem diante dos olhos. Como o seu ego não está envolvido, ele não vê nada de bom ou de mau no comportamento da garota e, por causa disso, um detalhe que não foi observado pelos seus amigos chama a sua atenção: os olhos da moça estão fechados. Ele percebe que ela é sonâmbula e a sua reação é imediata. Para o carro, desce e usa o próprio casaco para cobrir os ombros da moça. Ele a acorda com cuidado, explica-lhe que ela devia estar caminhando em sonhos quando saiu para as ruas em trajes de dormir e oferece-se para levá-la para casa. Meu amigo Philipe costumava terminar a história com uma piscada, dizendo: “Lá ele recebeu a recompensa pelo seu gesto”, deixando que cada ouvinte entendesse da forma como quisesse.

A primeira aptidão interna a ser desenvolvida no Jogo Interior é a da conscientização sem julgamento. Quando “desaprendemos” a julgar, descobrimos — geralmente com alguma surpresa — que não necessitamos da motivação de um reformador para mudar nossos “maus” hábitos. Há um processo mais natural de aprender e fazer, esperando para ser descoberto. Ele está aguardando para mostrar o que pode fazer quando nós o deixamos operar sem a interferência de impulsos conscientes da ego-mente julgadora.

Talvez a habilidade mais indispensável às pessoas nos dias de hoje seja a de permanecer calmo enquanto à nossa volta acontecem mudanças rápidas e perturbadoras. A pessoa que melhor sobreviverá à era atual é aquela que, conforme a descrição de Rudyard Kipling, consegue manter a cabeça no lugar enquanto todos ao redor estão perdendo a sua. Ver a natureza das coisas não significa propensão para enterrar a cabeça na areia diante do perigo, mas a habilidade de enxergar a verdadeira essência do que está acontecendo ao redor e de ser capaz de responder de forma apropriada. Isso requer uma mente ao mesmo tempo clara e calma.

Positivismo X Pensamento positivo

Perceba que não se trata de substituir a programação negativa por programação positiva com a repetição de afirmações. Pensamento positivo é o mesmo tipo de atividade mental que pensamento negativo. A ideia é ter consciência de si e do que acontece ao seu redor, sem julgamentos, mas aprendendo a tirar o melhor de cada circunstância.

Deixar acontecer

Apesar de parecer uma espécie de passividade, deixar acontecer mostra uma profunda aceitação de um processo inerente à vida. Significa fé na ordem e na bondade fundamentais da vida, tanto humana como natural.

Trata-se de permitir que a alegria entre na sua vida em vez de imaginar estar divertindo-se, de apreciar o amor e a beleza que já existem em torno de você em vez de tentar fabricar algo.

Muita gente carrega consigo uma imagem do tipo da pessoa que gostaria de ser, assim como um jogador de tênis imagina o tipo de saque que gostaria de ter.

Quando nosso comportamento parece não corresponder ao nosso ideal, ficamos abatidos e tentamos “corrigir”.

O esforço na verdade deve estar em ficar mais consciente da beleza e da força de nossas qualidades, daquilo que já somos.

A tese de Tim que carrego para a vida e aplico em técnicas de desenvolvimento pessoal é que não encontraremos maestria nem satisfação em algum jogo se negligenciarmos as habilidades do jogo interior.

De novo, é sobre conectar-se com você mesmo e com seu propósito para gerar uma transformação na forma de conduzir sua vida.

Resiliência e carreira

O mundo corporativo é repleto de desafios e adversidades. O tempo todo os profissionais são obrigados a lidar com imprevistos, dúvidas, relações conflituosas e muitas outras questões que se tornam obstáculos no dia a dia de trabalho.

Saber jogar o Jogo Interior para colocar em prática a resiliência humana é cada vez mais indispensável.

Afinal, é essencial para uma empresa poder contar com colaboradores que conseguem lidar de maneira saudável e inteligente com as dificuldades.

Autoconhecimento e inteligência emocional fazem parte dessa jornada, pois quando a pessoa se conhece melhor, tem consciência sobre as suas limitações e é capaz de identificar suas qualidades e pontos de melhoria. Ou seja, consegue lidar com as adversidades e desafios.

Em um cenário permeado por mudanças e pressões constantes, saem ganhando aqueles que conseguirem desenvolver e aplicar a resiliência.

A perfeição técnica de nada adianta se o profissional não conseguir lidar com problemas, imprevistos e obstáculos.

Algumas características de pessoas que desenvolvem a resiliência e a inteligência emocional:

Aceitam o momento presente e analisam o cenário de maneira clara para tomar decisões objetivas;

São flexíveis para tentar e experimentar coisas novas e fazer testes;

São fieis aos seus valores que dão sentido à vida e que se conectam ao seu propósito pessoal.

Um líder que consegue encarar positivamente dificuldades e mudanças, orientando os membros da equipe de maneira clara e estratégica, sem pânico, estresse e ansiedade, contribui para o crescimento de todos.

Para desenvolver sua resiliência

A resiliência é essencial para viver melhor.

Ao longo da vida, assim como os esportistas, nos perguntamos: por que “jogamos” tão bem num dia e tão mal no outro? Por que ficamos tensos numa competição ou desperdiçamos jogadas fáceis? Por que demoramos tanto para nos livrar de um mau hábito e aprender um novo?

O praticante do Jogo Interior valoriza a arte da concentração relaxada mais do que outras habilidades. O desempenho espontâneo é o objetivo. Para isso, a mente precisa estar calma para superar os problemas comuns da competição.

Em geral, não nos damos conta de que existe um processo muito mais natural e eficaz para aprender e fazer quase tudo. Este processo não precisa ser aprendido, nós já o conhecemos – afinal, aprendemos a falar e a andar – porém, é necessário desaprender aqueles hábitos que interferem nele para, então, deixar acontecer.

Afinal, resiliência não é sobreviver ou superar situações adversas. Mas é a  forma como atravessamos essa experiência e conseguimos integrá-la à nossa história de vida. Ser resiliente também é se recompor e assimilar tais situações, conseguindo sair delas mais fortes, confiantes e preparados para o que vem a seguir.

Ligiani Meirelles

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