Pesquisa Mulheres Preconceito e Violência, do Observatório FEBRABAN, revela que o medo de represália ou perseguição silencia brasileiras sobre situações de violência
Em sua décima edição, o Observatório FEBRABAN, pesquisa FEBRABAN-IPESPE, divulgada este mês, evidencia a situação de vulnerabilidade e exposição das mulheres, apontando que metade das brasileiras participantes da pesquisa (51%) declaram que as vítimas de violência não procuram ajuda e não denunciam o agressor.
Mesmo com o amplo reconhecimento de que as mudanças na legislação brasileira, como a Lei Maria da Penha, têm contribuído para a igualdade de gênero e o combate à violência contra a mulher, o medo, principalmente de represália ou perseguição (Centro-Oeste lidera com 64%), é o principal motivo pelo silêncio das vítimas. O Sudeste apresenta o maior índice (58%) dos casos em que mulheres não pedem ajuda.
O segundo motivo mais citado foi a vergonha ou para não se expor (19%), seguido pelo medo de serem desacreditadas (15%), não perderem ou não se prejudicarem no trabalho (11%), não confiam na Justiça/aplicação das leis (10%), e 2% das mulheres ouvidas citam não denunciar por dependência financeira do(a) agressor(a).
O levantamento Mulheres Preconceito e Violência foi realizado entre os dias 19 de fevereiro a 2 de março, com 3 mil mulheres nas cinco regiões do país. Ele traça um amplo quadro desse problema no país e se alinha aos esforços de investigar a situação das mulheres brasileiras e de combater o preconceito e a violência. É superlativa a impressão, no levantamento, de que os casos de violência contra a mulher aumentaram durante a pandemia da Covid-19.
“O levantamento mostra que, apesar de a sociedade brasileira ter avançado muito nos últimos anos, ainda temos muitos desafios a suplantar em relação à diversidade e igualdade de gêneros”, diz Isaac Sidney, presidente da FEBRABAN. “Não podemos pensar em desenvolvimento e crescimento social e econômico nos próximos anos sem combater esse tipo de mazela e sem incentivarmos políticas e ações afirmativas que eliminem essas diferenças.”
Caracterizando a violência contra a mulher no Brasil, quase oito em cada dez respondentes indicam a casa como o lugar onde as situações de violência, ameaça e assédio ocorrem com mais frequência e sete em cada dez citam pessoas próximas ou conhecidas – atuais ou antigos cônjuges, companheiros e namorados — como principais agressores.
“Se esse quadro, por si só, já evidencia a situação de vulnerabilidade a que as mulheres estão expostas, ele se agrava quando metade declara que as vítimas não procuram ajuda ou não denunciam. E isso acontece em função do medo, principalmente de represália ou perseguição, e também de serem desacreditadas”, aponta o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE.