O LIMIAR ENTRE PLANEJAMENTO E PROCRASTINAÇÃO

Você já se pegou deslizando a timeline da rede social ou assistindo stories enquanto, na verdade, deveria estar realizando uma tarefa importante?

A verdade é que todos nós já deixamos alguma coisa para fazer depois, algum trabalho para o dia seguinte, algum relatório para o final do mês.

Procrastinar – que significa postergar, deixar para depois, protelar – é um traço da natureza humana que pode estar relacionado a diferentes motivos. Um deles, por exemplo, é achar que precisa de mais tempo para tomar uma decisão ou realizar um planejamento.

O problema é quando este “deixar para depois” se torna um hábito aplicado em mais de uma esfera da vida.

Postergar decisões ou dedicar tempo demais à etapa de planejamento (sem execução, de fato) são traços que indicam uma procrastinação crônica.

No conteúdo de hoje quero falar com você sobre este “hábito” prejudicial que rouba um dos recursos mais valiosos que possuímos: nosso tempo. E porque, ainda que seja um comportamento natural, ele precisa ser combatido.

Para isso, meu intuito é estabelecer o limiar que existe entre o que é planejamento – que leva, sim, tempo – e a procrastinação.

Os 3 “porquês” da procrastinação

Para começar, vamos desmistificar o pré-conceito que relaciona procrastinação à preguiça. Uma conduta procrastinadora pode ter diferentes causas, inclusive físico-cognitivas. Por exemplo:

  • Psicológicas: a procrastinação pode estar ligada a distúrbios como ansiedade e problemas de autoestima.
  • Fisiológicas: procrastinação também pode estar relacionada ao córtex pré-frontal. Se há algo incomum com essa área do cérebro, como uma lesão, o indivíduo pode sofrer mais com as distrações externas.

Excetuando as razões acima, que necessitam de análises e tratamentos específicos, existem 3 principais porquês comuns na procrastinação:

  1. Paralisia de escolha

Acontece quando uma pessoa se vê diante de vários caminhos e não sabe por qual optar. Na sociedade atual, esta paralisia é comum, afinal, vivemos em universos (e metaversos) repletos de possibilidades que, muitas vezes, podem confundir e levar à procrastinação.

  1. Desvalorizar seu tempo

Nosso tempo é finito e deve ser aproveitado da melhor maneira possível. No entanto, nem todos possuem essa consciência. Essas pessoas que ignoram o valor de cada momento costumam se deixar levar pela procrastinação, desperdiçando horas com atividades irrelevantes.

  1. Falta de autodisciplina

Impor disciplina a si mesmo, sem precisar que um terceiro – um chefe, um cliente, um parceiro – faça isso, é um tremendo desafio, que exige autoconhecimento e muita consciência. A ausência desse autocontrole leva muita gente a procrastinar quando não se sente supervisionada ou observada.

Acho importante também ressaltar que há eventos sabotadores. Muitas vezes, as pessoas usam alguma justificativa para não agir em cumprimento de uma meta estabelecida.

Vemos isso com frequência entre profissionais que usam a desculpa de que o planejamento deve ser perfeito do começo ao fim.

A questão é que obstáculos surgem durante o percurso. Uma festa infantil repleta de guloseimas é um evento sabotador que pode postergar sua dieta? Só se você decidir que sim.

Fato: é muito comum no meu trabalho de desenvolvimento de pessoas ouvir relatos de busca pelo perfeccionismo como justificativa para procrastinação. Na expectativa de ter uma tarefa executada de forma perfeita, a pessoa deixa de agir.

Impactos: procrastinar causa danos à imagem pessoal e profissional. Não é legal ficar conhecida por empregadores e clientes (ou até mesmo entre os mais próximos) como aquela pessoa que não cumpre prazos e compromissos combinados.

O ciclo da pessoa procrastinadora no planejamento

Em geral, a procrastinação segue um fluxo mais ou menos assim:

#1 A pessoa tem um planejamento a executar.

#2 Ela tenta adiar ao máximo o início da execução, fazendo ajustes no plano ou outras atividades de menor importância.

#3 O prazo para executar o planejamento se aproxima e ela acaba entregando, mesmo sem se dar conta de que a qualidade pode ter sido comprometida.

#4 O fato de ter “conseguido” concluir, mesmo depois de adiar, encoraja a pessoa a manter esse comportamento e repetir essas ações, esquecendo da angústia experimentada.

Um dos efeitos que desencadeiam problemas e transtornos é que nem sempre essa pessoa consegue concluir suas tarefas dentro do prazo. Ou ainda pior, por receio de não estar com o plano perfeito, elas passam a procrastinar cada vez mais suas entregas.

Estresse, sensação de culpa, perda de produtividade e vergonha em relação aos outros são sentimentos comuns aos procrastinadores. E ninguém gosta de experimentar esses sentimentos, não é mesmo?

O perfeccionismo usado como válvula de escape por muita gente que procrastina, no entanto, é ainda mais prejudicial, já que a pessoa passa a sofrer também pela ausência de resultados em seus projetos.

Vai lá e faz!

Para impedir que o perfeccionismo afete o alcance de metas e seja escape para procrastinar é preciso adotar algumas posturas pessoais transformadoras e também se fortalecer para ficar menos na esfera do planejamento e partir para a ação.

Tiago Mattos é um educador, empreendedor, futurista, palestrante e autor do livro Vai lá e faz: Como empreender na era digital e tirar ideias do papel.

A partir daqui me baseio nessa obra fantástica que reflete a experiência real de um empreendedor que transforma pessoas.

No livro, Tiago reflete sobre nossa realidade, pontuando que vivemos um momento em que novas ideias surgem o tempo todo. Por isso, precisamos sempre ter o olhar voltado às novas possibilidades.

Compartilho aqui alguns insights desse autor que considero essenciais para o tema do texto de hoje. Sair da procrastinação exige determinação para se libertar do receio do “e se esse não for o plano perfeito” e passar a fazer acontecer.

Algumas lições reais que mostram o limiar entre planejar e procrastinar:

  1. Negócios saem do papel quando há coragem para tornar o planejamento mais enxuto: empreendedores planejam pouco, pois, apesar de ser uma etapa importante do processo, o formato tradicional de planejamento das empresas é demorado e, quando fica pronto, o cenário já é outro. Negócios não saem do papel por excesso de cuidado no planejamento.
  2. Perfeição é utopia, aprenda fazendo: gerentes e executivos do mundo corporativo estão muito direcionados aos resultados, metas e desempenho. Empreendedores costumam ter seu foco no aprendizado. A ideia clara é: o importante é tirar lições do que aconteceu – seja bom, seja ruim. O problema não é errar, mas sim não aprender com o erro.
  3. É preciso escapar do “Vale das Ideias”: uma das armadilhas para pessoas que querem tirar ideias do papel é o Vale das Ideias, ou seja, aquele hábito de criar muita coisa e não colocar nada em prática.

Os 3 Ps

Ao observar as referências que venho trazendo neste texto, dá para perceber como planejamento, perfeccionismo e procrastinação estão inter-relacionados e próximos, né?

O segredo é entender o limiar e saber quando é hora de planejar e quando você pode estar se excedendo nesta etapa, buscando uma perfeição inexistente por medo ou porque entrou no ciclo da procrastinação.

Te indico alguns hábitos que ajudam a evitar a procrastinação para que você inclua na sua rotina.

Listas de tarefas

Sim! Listas são importantes se você quer priorizar e não procrastinar. Pode ser em papel ou aplicativo, mas liste suas tarefas. Ter visível todas

as atividades que precisa realizar com datas e horários é uma atitude para gerenciar o tempo.

Se for uma tarefa grande, aprenda a separar etapas

Ver uma tarefa enorme e trabalhosa pode ser desmotivador. Para driblar o cérebro, separe-a em etapas (tarefas menores, metas mais simples). Assim ficará mais fácil imaginar a sensação de realização e felicidade após concluir a tarefa toda.

Perceba a tendência a procrastinar começando

Procrastinar tem um “Q” pessoal, íntimo. A gente sabe quando está postergando algo e consegue identificar nossas atitudes e comportamentos. Mas é importante que cada um aprenda a reconhecer o início dessa “distração”. Os gatilhos são individuais. Qual é o seu?

Reconheça e elimine distrações

Sabendo o que te distrai e dá início à procrastinação, elimine isso do ambiente quando precisar se concentrar.

Vai lá e faz!

Se você percebe que costuma ficar “se enganando” com o argumento de que vai começar uma tarefa quando tiver as condições perfeitas, apenas comece. Use da melhor forma possível as ferramentas e condições que tiver disponíveis no momento. Não espere, vai lá e faz!

Usar o seu tempo com inteligência traz uma recompensa fantástica: a sensação de dever cumprido.

Ah, e mesmo que você esteja se esforçando para não procrastinar, como falei lá no início, esse é um comportamento natural. Entenda seu momento, se conheça, saiba reconhecer caso se deixe levar pela postergação.

Desde que isso não seja frequente, busque seu caminho e apenas retorne ao ritmo anterior. Simples assim!

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E se você está em busca de procrastinar menos e fazer mais, me envie um e-mail ou deixe um comentário. Vamos conversar!