Ansiedade Corporativa: o mal do século e o mundo do trabalho

Você e eu passamos mais da metade do nosso tempo em ambientes e situações profissionais.

O mundo do trabalho é um cenário repleto de expectativas e frustrações.

E, claro, essa constante volatilidade nos afeta (e muito) emocionalmente.

Por isso escolhi tratar sobre o “mal do século”, como define o psiquiatra e escritor Augusto Cury, grande referência no tema da ansiedade, sob a ótica corporativa.

Afinal, por estarmos boa parte de nossos dias no trabalho, é ali que ficamos mais sujeitos a agitação emocional, estresse e ansiedade.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão afeta 1,4 bilhão de pessoas no planeta. No Brasil, o percentual de brasileiros que declara ter recebido diagnóstico de depressão por profissional de saúde mental chega a 10,2% (16,3 milhões de pessoas).

Mais impressionante ainda é que 80% (86% no Brasil) da população mundial é acometida pela Síndrome do Pensamento Acelerado, que atinge indivíduos de todas as idades.

Esse ritmo de construção de pensamentos gera consequências seríssimas para a saúde emocional.

No livro Ansiedade Corporativa: confissões sobre estresse e depressão no trabalho e na vida, Adriano Silva oferece um testemunho franco sobre esses temas e compartilha experiências sobre como enfrentar sentimentos como ansiedade, depressão, medo e melancolia dentro e fora do escritório.

O autor mostra que uma carreira bem-sucedida não se faz somente de competências técnicas e que a coragem para superar os medos é essencial.

É um excelente livro que trata de forma direta e sob o ponto de vista de quem vivenciou a ansiedade corporativa sobre dias horríveis, sobre sentir medo, sobre sentir dor, sobre vontade de chorar.

Vale a leitura porque traz um recado de conforto: “hey, você não está sozinha ou sozinho, quase todo mundo já teve aquela sensação de que nada realmente vale a pena ou de que as coisas estão a um passo de desmoronar”.

E esse texto é exatamente para te dizer que está tudo bem não estar tudo bem, mas é preciso atitude para não deixar que o medo, a ansiedade e os pensamentos te paralisem e impeçam sua busca para ficar melhor com você mesmo.

Desacelerar é preciso

“Pensar é bom, pensar com lucidez é ótimo, porém pensar demais é uma bomba contra a saúde psíquica, o prazer de viver e a criatividade”.

A célebre afirmação de Augusto Cury, autor de Ansiedade: como enfrentar o mal do século, nos traz a reflexão de que desacelerar nossos pensamentos e saber gerir nossa mente é fundamental para uma vida mais saudável.

No livro, ele traz provocações sobre o que fazemos com a enorme quantidade de dados que temos disponíveis na atualidade.

Será que esse volume intenso de informações não provoca um padrão de pensamento acelerado demais gerador de ansiedade?

Sobre nosso hábito de querer saber tudo o tempo todo por diferentes canais, mas, muitas vezes, sem uma razão, Cury traz uma metáfora perfeita:

“Uma quantidade enorme de tijolos seria somente uma quantidade enorme de tijolos, o que os diferencia de outras pilhas é a capacidade de um arquiteto de organizar esses tijolos e fazer uma bela obra”.

Em resumo, assim como é impensável deixarmos nosso carro ligado 24 horas por dia, também precisamos “desligar” ou desacelerar a nossa mente para não criarmos um looping de pensamentos angustiantes.

O mundo do trabalho, como mencionei no início do texto, é frenético e não-raro nos faz acelerar nossas mentes e colocar nossa saúde mental em xeque.

Os resultados do que o autor trata como Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) são a exaustão emocional e a ansiedade.

O custo do estresse no trabalho

Rob Cooke, gerente de relacionamento para indivíduos de alta renda, fala sobre o altíssimo custo do estresse relacionado ao trabalho neste TED Talk – tanto na economia global quanto em nossas vidas.

Segundo ele, o estresse profissional está relacionado com a falta de equilíbrio entre produtividade e bem-estar.

Vou trazer aqui um trecho do exemplo que ele dá no vídeo para que você entenda essa relação:

Imagine uma mãe solteira, que tem um trabalho estressante, num ambiente de estresse, em que está sentada 90% do tempo. Talvez ela não tenha tempo para cozinhar, por isso, escolhe refeições práticas, consumindo alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar. Com o tempo, essa dieta pobre aliada ao estresse do trabalho pode causar uma doença crônica, por exemplo, diabetes. O tratamento médico custa, a ela e à empresa, mais dinheiro, ou seja, mais estresse. Provavelmente toda essa situação a deixe distraída e menos produtiva, pois seu pensamento angustiante acumula preocupações (a doença, o custo do tratamento, a tensão no trabalho, a consternação em relação ao filho – “quem vai cuidar do meu bebé?”).

A reflexão que o especialista traz é muito interessante, pois ele coloca que a maioria de nós vê o estresse como uma consequência, mas, na verdade, quando ele está relacionado ao trabalho, ele pode ser visto como uma cultura.

E é nesse ponto que ele interliga os elos entre trabalho, estresse, saúde e bem-estar.

Para Rob, criamos uma cultura em que os cuidados pessoais e o bem-estar são deixados em último lugar.

Para mudar isso, ele traz sugestões para as próprias empresas, que têm um papel crucial no estresse e no bem-estar do local de trabalho, e para líderes, que precisam mostrar abertamente como cuidam e se preocupam de forma genuína com a saúde mental da equipe.

Deixar de lado essa cultura do estresse exige também empenho de cada pessoa. A sugestão do palestrante é fazer a gestão do estresse e não tentar enfrentá-lo. Atenção plena (mindfulness) e o domínio sobre a nossa mente são as ferramentas de desenvolvimento pessoal, reconhecimento e aceitação dos nossos pensamentos, emoções, ambiente e estado físico indicadas por ele (e por mim) para uma vida mais feliz, mais saudável e mais produtiva.

Gerenciando o Pensamento Acelerado

Por falar em gestão das emoções, volto a recorrer a Augusto Cury, que traz sugestões para gerenciar a Síndrome do Pensamento Acelerado:

Capacitar o EU para ser o autor da sua própria história;

Não ser escravo dos seus pensamentos. É fundamental ter o pensamento livre;

Saber gerenciar o sofrimento antecipatório. Viver o momento atual é crucial para uma vida mais feliz;

Reciclar crenças antigas, ou seja, identificar o que não se acredita mais e imediatamente se desfazer disso;

Não ser uma máquina de retenção de informações. Saber filtrar o que realmente te agrega valor;

Não trabalhar excessivamente;

Dar mais importância a sua qualidade de vida. Pensar mais em si.

Veja como a maioria das recomendações tem a ver com autoconhecimento e desenvolvimento de comportamentos que estão conectados com seu interior. Ou seja, lidar com a ansiedade também é possível por meio de técnicas e ferramentas.

Sobre Higiene Mental

Imagine que depois de um longo dia de trabalho você chega em casa, come alguma coisa, toma um banho, troca de roupa e ao invés de desacelerar um pouco e curtir seu tempo livre ou sua família, você vai navegar na internet, olhar o WhatsApp, as mensagens, as redes sociais.

De repente, o tempo passou e você nem percebeu. Segundo Augusto Cury, esse é o cenário perfeito para desenvolver a Síndrome do Pensamento Acelerado, causadora de ansiedade, depressão e insônia.

Normalmente já somos expostos a uma quantidade enorme de estímulos e informações durante o período de trabalho e, quando chegamos em casa, ao invés de desacelerar, fazemos justamente o contrário.

Nosso cérebro é acometido por uma hiper construção de pensamentos, numa velocidade tão alta que nos faz sentir estressados e desgastados.

Por isso, é preciso fazer um exercício diário de limpeza mental.

Ser autocrítico quanto aos pensamentos que invadem a nossa cabeça é fundamental para que controlemos a ansiedade e mudemos os padrões de pensamento, ressignificando emoções e reações geradas por determinados gatilhos.

Exercitar a auto-observação, o autocuidado e a afetuosidade consigo mesmo é um trabalho necessário para que sejamos menos ansiosos. Isso é fazer a higiene mental.

Contar com a ajuda de um profissional de saúde mental também pode te ajudar nessa missão.

Dica: essa matéria ajuda a entender o que é e traz dicas para fazer essa higiene da sua saúde mental.

Para lidar melhor com Ansiedade Corporativa no dia a dia

Manter a ansiedade sob controle passa por gerenciar o estresse. E vou concluir o texto com algumas dicas (uma série de pequenas mudanças) que podem contribuir para manter seus níveis de estresse bem baixos no dia a dia.

#1 Equilibre sua agenda

Não há nada de errado em dar tudo de si, esforçar-se ao máximo e ser ambicioso. Mas é necessário que sua agenda tenha equilíbrio entre responsabilidades, tarefas diárias e lazer. Busque gerenciar bem o tempo entre o trabalho, a vida familiar, atividades sociais, hobbies. Muito trabalho e nenhum período de descontração é o gatilho perfeito para a ansiedade.

#2 Seja flexível (com você mesmo) e realista (sobre si)

Só porque você sonhou que teria determinada carreira, não significa que você seja obrigado a seguir esse caminho. Esteja aberto a possibilidades e não fique preso a uma ideia específica do que você deveria fazer. Se você tem ansiedade social, um trabalho que exige muita interação direta com o público pode te deixar totalmente estressado. Se conhecer e saber o que é um gatilho para a sua ansiedade ajuda a descobrir potenciais zonas de perigo e a fazer escolhas melhores e mais condizentes com a sua verdade.

#3 “Fatie” metas e projetos em pedaços menores

Um grande projeto pode parecer impossível e gerar muito estresse se não for “quebrado” em tarefas menores. É preciso “fatiar o elefante” e criar um plano passo a passo para que você se concentre nas tarefas mais gerenciáveis ​​e importantes primeiro.

Meditar, praticar atividades físicas e mindfulness também ajudam muito a trazer a mente para o momento presente. Observar os pensamentos e deixá-los ir embora é uma técnica que pode ajudar você a identificar preocupações e a entrar em contato com suas emoções.

A ansiedade que muitos profissionais enfrentam é uma resposta ao estresse e pode ser desencadeada a partir de uma série de fatores. Se conhecer, se observar e se conectar com você mesmo é fundamental para gerenciar essa ansiedade que pode aparecer em diferentes momentos da nossa vida.

Se você se percebe muito estressado no seu ambiente de trabalho, sente muita ansiedade, lembre-se que sua carreira contribui para uma parte de quem nós somos, mas jamais permita que apenas ela te defina.

Precisa de ferramentas e técnicas para desenvolver o autoconhecimento e gerenciar suas emoções? Vamos conversar, estou à disposição pelo e-mail para nos conectarmos e buscarmos construir uma jornada mais leve e conectada ao seu propósito.

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