Tabagismo e diagnóstico tardio dobram mortes por câncer de pulmão no Brasil

País registra mais de 29 mil óbitos por ano. O pneumologista Dr. Flávio Arbex explica a importância da prevenção.

Um novo levantamento da Umane, organização civil focada em saúde pública, relatou que as mortes por câncer de pulmão dobraram no país nas últimas duas décadas. Dados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM) mostram que em 2000, o país registrou 14.717 óbitos pela doença, enquanto em 2022 houve 29.576 mortes.

Segundo o pneumologista Dr. Flávio Arbex, embora as campanhas de conscientização contra o tabagismo tenham diminuído as taxas de fumantes no país, o que se apresenta hoje é um reflexo de gerações passadas que consumiam grandes quantidades de cigarro. “O diagnóstico tardio é outro problema recorrente. Esse tipo de neoplasia é muito agressiva e descobrir o quadro tardiamente diminui as chances de cura”.

Esse cenário não se restringe ao Brasil, já que o câncer de pulmão é um problema global, sendo o mais comum e letal em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tumor provoca mais de 2,5 milhões de novos casos por ano, com 1,8 milhões de novos óbitos. “Por isso é tão importante reforçar continuamente o assunto. As pessoas precisam estar atentas e procurar ajuda assim que aparecerem os sintomas”, diz Dr. Flávio.

Os sinais não costumam ocorrer até que o câncer já esteja avançado, mas alguns quadros em estágios iniciais podem apresentar: tosse persistente; escarro com sangue; dor no peito; rouquidão; piora da falta de ar; perda de peso sem motivo; e sensação frequente de cansaço. Além do tabagismo, a exposição à poluição do ar, a exposição ocupacional a agentes carcinogênicos e histórico familiar também podem contribuir para o desenvolvimento da doença.

Importância da prevenção

Dessa forma, Dr. Flávio enfatiza a importância de adotar medidas preventivas, que incluam não apenas o abandono do tabagismo e a redução da exposição à fatores nocivos, mas também a realização dos exames de rastreamento em grupos de alto risco.

“O alerta deve ser redobrado com a população mais jovem, que apesar de fumar menos os cigarros tradicionais, têm se apropriado cada vez mais do uso de cigarros eletrônicos. Estes dispositivos podem afetar a função pulmonar ainda mais rápido que o tabagismo comum”, diz Dr. Flávio.

O pneumologista também destaca que a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), junto a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT) e ao Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), passaram a recomendar a realização periódica dos testes de rastreamento da neoplasia. “Isso porque o rastreamento e o diagnóstico precoce são fatores determinante para diminuir a mortalidade pela doença”.

Diante de um aumento alarmante no número de mortes por câncer de pulmão no Brasil, o pneumologista reforça ser fundamental que as autoridades de saúde sempre conscientizem sobre as consequências do cigarro, com a implementação de políticas públicas de prevenção e controle da doença que sejam eficazes, ao mesmo tempo em que promovem campanhas educativas sobre a importância do diagnóstico precoce.

Quem é Dr. Flávio Ferlin Arbex?

Especialista em pneumologia, Flavio Ferlin Arbex é médico e doutor pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM), instituição na qual também realizou residência em clínica médica e pneumologia.

Atualmente, é professor de Pneumologia da UNIARA e Coordenador da Enfermaria Covid da Santa Casa de Araraquara, além de membro das Sociedades Paulista e Brasileira de Pneumologia (SPPT e SBPT) e das Sociedades Americana e Europeia de Pneumologia (ATS e ERS).