Estudo afirma que componentes químicos encontrados em utensílios do dia a dia causam diminuição na contagem e qualidade de espermas

Elementos podem ser encontrados em panelas antiaderentes, produtos à prova d’água, cosméticos, pratos de papel, entre outros objetos

De acordo com um estudo divulgado recentemente, há uma nova razão para se preocupar com produtos químicos tóxicos usados em panelas antiaderentes, produtos à prova d’água, embalagens de fast food, tapetes resistentes a manchas, cosméticos, produtos de limpeza, eletrônicos, inseticidas, tintas e espuma de combate a incêndios. Estão presentes na composição desses objetos os PFCs (compostos perfluorados), que são o ácido perfluoroctanóico (PFOA) e o sulfonato perfluoroctano (PFOS), ambos prejudiciais à saúde reprodutiva masculina. Os PFCs vêm em centenas de formas e são amplamente utilizados para tornar os produtos do dia a dia mais convenientes e duradouros.

Os ácidos perfluoro-octano sulfônico e perfluoroctanóico têm sido associados a inúmeros outros problemas de saúde, incluindo redução da função imunológica, obesidade, câncer renal, câncer testicular, aumento dos níveis de colesterol, menopausa precoce, baixo peso ao nascer, problemas de tireoide e câncer de bexiga.

O estudo, publicado pelo Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, mostra que homens jovens expostos aos produtos químicos desenvolveram uma série de problemas com seus sistemas reprodutivos – e também estabelece, pela primeira vez, como esses componentes interferem com os hormônios dentro da célula. A pesquisa foi feita com 383 homens jovens, sendo que 212 foram expostos aos produtos e os outros 171 não. O estudo foi conduzido em Veneto, na Itália, que é uma das áreas do mundo onde o uso industrial desses dois componentes causou contaminação pela água potável e levou ao acumulo de substâncias químicas no sangue das pessoas.

Os pesquisadores descobriram que os jovens que foram expostos tinham pênis mais curtos, menor contagem de espermatozoides, menor mobilidade dos espermatozoides e uma redução na “distância anogenital” – distância menor entre o escroto e o ânus – um sinal de menor fertilidade visto como um marcador de saúde reprodutiva. Os cientistas concluíram que os produtos químicos têm um impacto substancial na saúde humana masculina, pois interferem diretamente nas vias hormonais que potencialmente levam à infertilidade.

Depois de observar todas as anormalidades nos jovens, os pesquisadores investigaram mais detalhadamente como os produtos químicos podem estar afetando o desenvolvimento reprodutivo masculino. Experiências realizadas em laboratório mostram que ambos os ácidos podem se ligar aos receptores de testosterona dentro da célula e interromper a função normal do hormônio. Segundo a bióloga da Universidade de Padova, Andrea Di Nisio, as estruturas do hormônio testosterona e dos ácidos são muito semelhantes. Isso fez com que os componentes atuassem como o hormônio da célula no lugar da própria testosterona.

Para o Dr. Guilherme Wood, médico urologista e especialista em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva, os resultados da pesquisa são preocupantes, já que mostram que mais compostos químicos são capazes de afetar a fertilidade masculina. “Aparentemente esses componentes trazem efeitos até mais graves que os causados pelo BPA – presente em produtos plásticos – e são mais persistentes no organismo humano. As contaminações por essas substâncias vêm ocorrendo há anos e é importante lembrar que o contato pode ser prejudicial até mesmo no período intra-útero, e pode comprometer o desenvolvimento dos genitais e das células que produzem os espermatozoides. Essas alterações podem ser irreversíveis na fase adulta”, afirma Dr. Wood.

Segundo os pesquisadores, o primeiro relatório sobre a contaminação da água por esses componentes é do ano de 1977. Ou seja, há 40 anos pessoas vêm sendo contaminadas e isso está afetando o sistema reprodutor masculino, sendo que esses componentes podem permanecer no corpo humano por anos.

O estudo sugere uma possível resposta a um fenômeno que tem intrigado os pesquisadores nos últimos anos: um preocupante declínio global na contagem de espermatozoides. Nas últimas quatro décadas, a contagem de espermatozoides nos EUA, Austrália, Europa e Nova Zelândia caiu mais de 50%, de acordo com um estudo de 2017 conduzido por pesquisadores da Escola de Medicina Mount Sinai e da Escola de Saúde Pública da Universidade Hebraica. A tendência mundial é vista em grande parte como um mistério, embora haja um crescente reconhecimento de que os contaminantes ambientais sejam em parte responsáveis.

“É muito importante que os órgãos governamentais tomem providências para evitar contaminações por essas substâncias, e que as empresas sejam obrigadas a identificar os produtos que contém esses compostos em sua produção, assim como já é comum para o BPA”, conclui Dr. Guilherme Wood.