Especialistas desmistificam a tensão pré-menstrual, dão dicas de como aliviar os sintomas e alertam para transtorno que pode ser confundido com a TPM

A segunda etapa da prova do Enem, realizada no domingo (12), abordou diferentes questões que chamaram atenção do público, entre os debates, ganharam foco as perguntas que abordaram o funcionamento da vacina da Covid, inseticidas agrícolas e uma sobre a influência dos hormônios no período de tensão pré-menstrual (TPM). A pergunta que abordava a TPM levou luz a um tema comumente mal compreendido.  Mesmo atingindo cerca de 80% das mulheres, segundo a obstetriz especialista em saúde íntima e CEO da Inciclo, Mariana Betioli, a tensão pré-menstrual, ainda é negligenciada por quem sente e por quem convive com essas pessoas.

“Na verdade, isso é uma coisa natural do nosso ciclo, que pode ser patológica ou não. A mulher é cíclica e cada fase do ciclo tem algumas características que influenciam nas emoções, na disposição, na energia”, conta a obstetriz.

A especialista explica que a primeira fase do ciclo é marcada pelo aumento de energia. “A mulher tem mais energia, mais disposição, uma libido aumentada, justamente por conta da ovulação que está por vir”. Essa fase vai desde a menstruação até o dia da ovulação.

Na segunda fase, continua Mariana, há uma mudança hormonal muito grande, que pode acarretar alguns sintomas. “Então, emocionalmente a mulher pode ficar mais irritada, mais chorosa e esses sintomas são mais agravados quando ela não percebe ou não pode atender aquilo que o corpo está pedindo. Nessa segunda fase, como é um momento de baixa energia, que a mulher tem uma vontade maior de se isolar, de ficar mais quietinha. O sintoma físico muito comum nessa fase é a constipação. Algumas mulheres também ficam com seios muito sensíveis, a barriguinha mais inchada, têm mais gases, isso tudo é normal. Esses sintomas aparecem normalmente por volta de sete dias antes da menstruação, é a famosa TPM.”

Se esses sintomas ultrapassam de 10 dias, a indicação da obstetriz é de procurar um médico para investigar; quando os sintomas permanecem por muito tempo podem indicar alguma outra causa que não seja uma simples TPM. “Se essa irritabilidade está muito exagerada ou a tristeza está muito profunda, isso pode ir além da TPM, pode caracterizar um quadro de TDPM, Transtorno Disfórico Pré-menstrual, que é uma doença e precisa de tratamento”, alerta a especialista.

As mulheres têm o hábito por conta da nossa cultura de negligenciar os sintomas que sentem. “Então às vezes muitas dessas TDPMs não são diagnosticadas, porque todo mundo acha que ficar irritada é normal, que ficar chorosa é normal, que ficar triste é normal. É considerado normal quando existe uma mudança muito sutil no comportamento da mulher. Não pode ser uma mudança muito brusca, têm mulheres que ficam realmente bem deprimidas, muito ansiosas e muito sem paciência nessa fase, mas fora daquilo que a gente entende como normal, então precisa ser avaliado por um médico, pode ser endocrinologista, ginecologista ou mesmo psiquiatra.”

O que fazer para melhorar a TPM? 

Segundo a especialista, há algumas coisas que podem ser feitas ao longo do ciclo para diminuir as chances de ter esses sintomas muito agravados e outras atitudes que podem ser tomadas durante a própria fase que se está enfrentando. “Dieta, exercício, alimentação adequada é sempre uma boa pedida. O equilíbrio vai ajudar para que a mulher não tenha os sintomas muito fortes. E, durante aquela semaninha de TPM, quando dá muita vontade de comer doces, carboidratos, massas, tentar manter o equilíbrio. É claro que a mulher deve se permitir e respeitar seu corpo e suas vontades, mas deve entender que o consumo exagerado desse tipo de alimento vai agravar os sintomas”, comenta Mariana.

Voltando ao exercício físico, como durante TPM a mulher tem menos disposição e menos energia, pode tender a parar de se exercitar. Parar totalmente com a atividade física também não é uma boa pedida, segundo a especialista. “Fazer atividades de baixo impacto como uma caminhada, alongamento, yoga, podem ajudar a melhorar os sintomas de depressão, de tristeza, de ansiedade, além de também ajudar no sono e na disposição”, conclui.

Orgasmos durante o período também são uma boa opção. A especialista em sexualidade Isabela Cerqueira, que também é CEO da Good Vibres, conta que o prazer pode trazer benefícios. “Durante o orgasmo o corpo produz endorfinas que dão a sensação de bem-estar. Estamos muito acostumados com o clássico chocolate ou até mesmo atividade física nessa época, mas pouco se fala, acredito que muito por conta do tabu que gira em torno do assunto, sobre como o orgasmo pode ser um aliado no alívio das dores e sintomas da tpm”, comenta. A especialista complementa lembrando que não é preciso estar acompanhada para atingir o orgasmo. “Há diversas opções para se chegar ao orgasmo, desde a masturbação, até o uso de acessórios que podem ajudar a chegar no ápice. Como durante a tpm algumas mulheres preferem ficar sozinhas, sem tanta interação, o auto prazer é uma ótima solução. Os vibradores são ótimos aliados, principalmente os que só estimulam a região externa do clitóris, como os sugadores ou bullets, que não possuem penetração e podem ser mais confortáveis para o uso nessa época”, comenta. “Ter um date com você mesma, focar no autocuidado e, claro, no prazer, traz diversos benefícios tanto físicos como emocionais.”, completa.