Especialistas alertam sobre a importância de manter o calendário de vacinação em dia para a prevenção de doenças

Porta-vozes da Fundação Ezequiel Dias (FUNED), Ministério da Saúde (MS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da farmacêutica GSK abordam questões sobre cobertura vacinal e a doença meningocócica no país

Muito tem se falado sobre a pandemia e a importância de uma vacina. Mas, há 50 anos, o Brasil passava por um cenário epidemiológico preocupante, que foi considerado a maior epidemia de meningite meningocócica da sua história. Surgida em São Paulo, na década de 1970, a doença se alastrou pelo país, mas, após uma massiva campanha de vacinação, a epidemia foi contida.1 2

E esse tema tão atual como a importância da vacinação no controle de doenças imunopreveníveis foi pauta de dois eventos virtuais realizados em junho pela farmacêutica GSK com a participação de especialistas da FUNED, Ministério da Saúde, UNICEF, Sociedade Brasileira de Imunizações, Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Infectologia. Para a Cristine Silva, farmacêutica responsável pela farmacovigilância da FUNED, é preciso constantemente informar e alertar a população e os profissionais de saúde de que a vacinação é uma importante ferramenta de proteção. Segundo ela, um exemplo disso foi a introdução da vacina meningocócica C no país em 2010. “Com a disponibilização dessa vacina no Programa Nacional de Imunizações, houve uma redução muito representativa da doença meningocócica, com diminuição de cerca de 64% na sua incidência, sendo essa redução ainda maior em crianças pequenas. Isso trouxe impacto positivo também na redução de surtos, na circulação do meningococo C e na sua transmissão.”

Renato Kfouri, pediatra e infectologista, presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP e diretor da SBIm, também enfatizou que as vacinas vêm cumprindo um papel, não só no Brasil como em todo o mundo, como uma das principais ferramentas para o controle, eliminação e erradicação de doenças, e principalmente no aumento da expectativa de vida da população.

“Na era pré-vacinal, doenças como paralisia infantil, coqueluche e sarampo eram responsáveis por elevada mortalidade infantil, que reduzia muito a nossa expectativa de vida. O relaxamento das coberturas vacinais atuais traz consequências preocupantes, como a volta do sarampo. Temos um desafio de manter coberturas vacinais elevadas em um cenário de desaparecimento de doenças e a população perde a percepção de risco. Temos sempre que motivar a população a manter a vacinação em dia e, principalmente, que os órgãos de saúde incentivem a imunização”, afirma Kfouri.

Já a pediatra Ana Goretti, do Programa Nacional de Imunizações, conta um pouco sobre os desafios que o Ministério da Saúde enfrenta com essa baixa cobertura vacinal. “O Programa Nacional de Imunizações completa 47 anos este ano e é um dos mais completos do mundo, com cerca de 18 vacinas ofertadas em mais de 37 mil postos de vacinação pelo SUS, espalhados em todo o país. Mas, a partir de 2016, observamos uma queda preocupante nas coberturas vacinais, principalmente no primeiro ano de vida das crianças”.

A pandemia e o isolamento social também podem afetar as coberturas vacinais. Segundo Marco Aurélio Sáfadi, presidente do departamento de Infectologia da SBP, esse cenário pode trazer sérios problemas de saúde pública como o ressurgimento de doenças que estavam controladas e até eliminadas. “Para os bebês no primeiro ano de vida, é essencial manter o calendário de vacinação em dia, mesmo nesse período de pandemia. Muitas doenças como sarampo precisam de altas coberturas para que o vírus não circule. Além do sarampo, temos a coqueluche, a doença pneumocócica, a doença meningocócica, e todas essas doenças podem causar muitos mais danos que eventualmente a COVID-19 para essa população pediátrica. Vacinação não pode ser postergada, não pode ser negligenciada. Se for, isso pode gerar um impacto muito ruim na saúde da nossa população”, conta.

Juarez Cunha, pediatra e presidente da SBIm, chama atenção para a situação atual do sarampo no Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. “Esses dados de sarampo que temos hoje são preocupantes. Depois de termos o certificado de eliminação dessa doença nas Américas, em 2016, tivemos o retorno em 2018 desta doença, com muitos casos também em 2019 e, agora em 2020, nós temos quase 3.700 casos confirmados e 4 óbitos. Uma doença totalmente evitável e prevenível por uma vacina segura e eficaz, disponível gratuitamente.”

Cenários Epidemiológicos

Para entender o comportamento da população em aderir ou não a vacinação, é preciso entender os cenários epidemiológicos, assim acredita Renato Kfouri. “Um exemplo clássico é a vacinação contra o vírus influenza. A busca por essa vacina é absolutamente dependente do cenário epidemiológico no país. Quando a temporada de gripe é mais intensa, com muitos casos e mortes, como aconteceu em 2016, por exemplo, a campanha atinge a sua meta de cobertura em apenas três semanas. Já quando a epidemia é tímida, com poucas notificações, a gente leva de três a quatro meses para conseguir atingir uma cobertura vacinal parecida como a que foi alcançada em outros anos”, esclarece.

Lessandra Michelin, infectologista e diretora da SBI, ressalta que mesmo com todo apelo que estamos tendo com a pandemia, ainda não atingimos a meta de cobertura vacinal contra influenza no país, mas estamos no caminho. A vacina não protege contra o coronavírus, mas é importante nesse momento para evitar uma coinfecção com o vírus influenza.

Outro exemplo foi o caso da febre amarela. “Quando chegou no sudeste do país, a doença causou uma grande movimentação e interesse da população em se vacinar, pessoas dormiam em fila para conseguir uma dose da vacina. Imagina se tivéssemos agora uma dose para a vacina de COVID-19?! Provavelmente aconteceria o mesmo. Mas, ao mesmo tempo, se a vacina chegar daqui a um ano, com outro cenário epidemiológico, garanto que teremos dificuldades de conseguir altas coberturas vacinais, mesmo com uma vacina tão desejada”, exemplifica Kfouri.

Importância da vacinação dos adolescentes

Os especialistas também debateram sobre a importância da vacinação dos adolescentes e a dificuldade de se obter altas coberturas vacinais nesta faixa etária. Para Marco Aurélio Sáfadi, a vacinação dessa faixa etária é essencial para diminuir a colonização e a propagação, principalmente da bactéria causadora da doença meningocócica, pelos adolescentes. “Ao imunizar os adolescentes, conseguimos prevení-los e, com altas coberturas vacinais, evitar a transmissão da doença meningocócica, prevenindo também quem não foi imunizado”.

Jessé Alves, gerente médico de vacinas da GSK Brasil, complementa sobre a importância da vacinação dessa faixa etária. “Até 23% dos adolescentes e adultos jovens podem ser portadores da bactéria causadora da doença meningocócica e podem transmití-la para outras pessoas através da saliva e gotículas respiratórias, sem necessariamente desenvolver a doença. Ainda assim, os adolescentes podem transmitir a bactéria para outros adolescentes ou indivíduos de outras faixas etárias. Por isso é importante a vacinação desse público.”

Nos postos de saúde, a vacina contra a doença causada pelo meningococo C é disponibilizada para crianças menores de 5 anos de idade.3 Além desta, a vacina meningocócica ACWY está disponível pelo Programa Nacional de Imunizações para adolescentes de 11 e 12 anos.4 5

Segundo Ana Goretti, o adolescente é um público desafiador para a vacinação, pois eles não buscam os postos de saúde para se imunizar. “A vacina contra o HPV, por exemplo, que é uma das ferramentas mais eficazes para a prevenção contra o câncer do colo uterino nas meninas, mesmo disponível gratuitamente nos postos de saúde, a cobertura vacinal não chega a 50% no país. Esse dado é preocupante, pois hoje o câncer de colo uterino é uma doença que mata mais de 6 mil mulheres e é a terceira maior causa de óbito no sexo feminino no país. E a vacinação não deve ser restrita apenas às meninas. A vacina também está disponível para os adolescentes meninos, prevenindo assim o câncer de pênis, o câncer de ânus, câncer de orofaringe e verrugas genitais”, conta.