Andador é aliado ou vilão do desenvolvimento do bebê?

Ortopedista pediátrica desmistifica o acessório que causa muitas dúvidas em pais e cuidadores

É natural que pais e cuidadores fiquem ansiosos para que o bebê, comece a andar e explorar o ambiente. A fim de estimular o pequeno e até a ter um pouco de liberdade para os braços, muitos pais acabam comprando um andador para o bebê.

“Este brinquedo ainda é muito usado na nossa sociedade. Cerca de 60 a 90% dos bebês entre 6 e 15 meses fazem uso do brinquedo”, conta a Dra. Natasha Vogel, ortopedista pediátrica do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM/SP).

Dra. Natasha lembra que pais e cuidadores usam como desculpas que o andador dá segurança e evita quedas, oferece mobilidade, ajuda no desenvolvimento da marcha e facilita o cuidado com o bebê para seguir utilizando o andador no dia a dia. Mas, será que essas justificativas fazem sentido?

“Nem um pouco! Dez a cada mil crianças que vão ao serviço de emergência (PS) com menos de 1 ano de idade são vítimas de acidentes com andadores. A cada 2 ou 3 crianças que utilizam andador, uma terá um traumatismo, ou seja, 30%. Sendo que 1/3 das lesões são graves, necessitando de hospitalização por fraturas, traumas crânio-encefálicos ou até fatais. Além disso, pela maior mobilidade e por ficarem sentados em uma altura mais alta, ficam mais susceptíveis a queimaduras, intoxicações, afogamentos e quedas, principalmente de escadas; justamente pelo fácil acesso”, enumera a ortopedista.

A idade em que as crianças mais se machucam com o andador é na faixa de 7 a 10 meses, maioria de meninos e cerca de 98,8% dos acidentes acontecem no ambiente domiciliar, de acordo com estudos americanos.

A noção de autoproteção ou noção do perigo só surge por volta dos cinco anos de idade, por isso, elas não têm discernimento para escapar do perigo nos andadores.

“Eles acabam machucando mais o crânio e o pescoço (90,6% dos casos), enquanto as fraturas nos membros superiores são mais frequentes do que nos membros inferiores, correspondendo a 4,5% e 2% dos casos, respectivamente”, diz Dra. Natasha.

A médica lembra que estudos já mostraram que cerca de 70% das crianças que sofreram traumatismos com andadores estavam sob a supervisão de um adulto e que o brinquedo pode causar ainda outros problemas, como:

-atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, ou seja, levar mais tempo para ficar em pé e caminhar sem apoio;

– perda de equilíbrio;

-podem fazer com que as crianças engatinhem menos;

– gastam menos energia tentando alcançar o que interessa com os braços e pernas.