Número de denúncias saltou de 12,5 mil em 2020 para 31 mil somente no primeiro semestre deste ano. Há quatro anos, esse volume não passava de 4 mil relatos. Dados revelam que o home office adotado na pandemia reduziu periodicamente as estatísticas, voltando a um índice alarmante após os abusadores se acostumarem com o ambiente virtual
Uma nova pesquisa sobre assédio moral e sexual no trabalho, realizada pela ICTS Protiviti, consultoria de gestão de riscos e compliance, que é reconhecida pelo seu pioneirismo e liderança em plataformas de recebimento e tratamento de denúncias no Brasil, mostra que os desvios de comportamento cresceram ainda mais depois da pandemia e o número tende a continuar subindo.
Somente no primeiro semestre deste ano, os relatos de abuso moral e sexual já registram a marca de 31 mil denúncias. Desse total, 91,8% são denúncias qualificadas para apuração. Esse número, que envolve 347 empresas, representa quase o triplo de casos de 2019 e de 2020, que alcançaram a marca de 12.349 e 12.529, respectivamente, sendo os anos com o maior número de registros. Em 2016, esse volume representava 4.367 denúncias.
No início de 2020, a quantidade de denúncias recebidas seguia uma crescente de aproximadamente 33% se comparado ao mesmo período do ano anterior. Em abril, logo no início da pandemia da Covid-19, o cenário de incerteza e insegurança somado ao auge das ações de isolamento social e de uma adaptação ao trabalho remoto, resultou numa queda drástica no volume de assédio moral e sexual de quase 50%. Porém, essa retração durou pouco tempo e os casos voltaram a patamares anteriores à descentralização dos escritórios e depois acelerou, atingindo números inéditos.
“Entendemos que este aumento está relacionado à falta de limites da gestão em relação à suposta alta disponibilidade do colaborador, que passou a ser acessado a qualquer momento, excedendo sua carga horária diária justamente por estar em home office. Este cenário replicado em inúmeras operações certamente colaborou para este aumento no volume de denúncias”, explica Fernando Scanavini, diretor de operações da ICTS Protiviti.
O executivo também comenta que os assediadores encontraram mais liberdade no ambiente virtual para promoverem suas práticas de abuso, visto que a privacidade de trabalhar em casa limita o acesso a demais colaboradores a presenciarem atos inconvenientes. “A imposição do uso de câmeras, por exemplo, nos contatos virtuais pode ter corroborado com esta questão. Exigir o uso pode configurar como assédio moral quando a pessoa não quer abrir a privacidade de sua residência. Por outro lado, também pode facilitar o assédio sexual”, comenta Scanavini.
Dos 31 mil registros classificados para análise técnica e apuração, 37,8% são procedentes e 9,8% são inconclusivos. Além disso, 75,4% das denúncias foram anônimas. Desses, 53,3% são realizados por mulheres e 46,7% por homens. A maioria das denúncias, ou seja, 91,6%, são realizadas por colaboradores e grande parte dos denunciados, 87%, são gestores e líderes.