EMPATIA: O TAMANHO ÚNICO NÃO SERVE PARA TODOS

Este é um texto para abordar uma capacidade essencialmente humana. Você já deve ter escutado sobre a empatia.

No senso comum, no clichê, você já deve ter visto definições parecidas com essas para o conceito:

“Ter empatia é sentir a dor do outro”; “ser empática é ‘calçar’ os sapatos de outra pessoa”; ou “empatia é enxergar o mundo pelos olhos de alguém”.

Aqui, sem juízos de valor, os raciocínios acima não estão certos ou errados, mas eu prefiro aprofundar um pouco mais o olhar para entendermos como somos capazes de nos conectarmos com outras pessoas, entendermos como estão se sentindo e porque estão agindo de determinadas formas.

Não é fácil! Mas nesse conteúdo quero te mostrar um pouco mais sobre as diferentes vertentes do conceito de empatia; o poder dela para transformar relações; hábitos para desenvolver e dicas para o dia a dia; e estratégias de implementação da empatia assertiva – uma habilidade que defendo como fundamental para a liderança.

Vamos nessa?

Empatia: conceito e percepções

O sentimento da empatia é bastante abstrato. No dicionário, uma das definições diz que é a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente e de querer o que ela quer. Em resumo, se colocar no lugar do outro.

Mas entendo que ter empatia vai além e que seu desenvolvimento varia de pessoa para pessoa – e, claro, que ela pode ser desenvolvida com técnicas.

Para te mostrar os diferentes pontos de vista e abordagens, vou recorrer a reflexões em TED Talks com especialistas diversos.

Chris Milk

O cineasta usa tecnologia de ponta para produzir filmes surpreendentes que agradam e encantam. Neste vídeo ele descreve e demonstra como transformou a tecnologia de realidade virtual – produzindo um filme em 360º com a história de vida de uma adolescente em um território hostil e em meio à crise dos refugiados – em uma ‘máquina da empatia’. Os maiores líderes reunidos no Fórum Econômico Mundial foram imersos na realidade dessa garota e achei fantástica a proposta de como a tecnologia também pode conectar humanos a outros humanos de forma profunda. Ou seja, nos tornar mais humanos.

Joan Halifax

Esse relato é particularmente emocionante. Joan fala sobre como, em seu ponto de vista, compaixão pode ser o verdadeiro significado de empatia, mas como ela só é ativada em nós frente a determinadas condições e situações. Uma das abordagens mais interessantes sobre a relação entre os dois conceitos e uma fala impactante: “a coisa mais assombrosa do mundo é que ao redor de nós as pessoas podem estar morrendo e nós não percebemos que isso pode acontecer conosco”. Você pode assistir à reflexão completa aqui.

Brene Brown

Esta é uma autora que eu adoro em um dos TEDs mais assistidos da história: O Poder da Vulnerabilidade. Ela narra como, por meio de uma intensa pesquisa, interligou coragem, compaixão e conexão como traços de pessoas vulneráveis ou, como prefiro, de coração pleno. Assista ao vídeo e entenda porque a vulnerabilidade é a origem do amor, do pertencimento, da conexão, da alegria. Você vai compreender porque ‘abraçar a vulnerabilidade’ e se dispor a abandonar o que sente para se deixar sentir o que o outro sente é tão importante para a gente ter empatia.

João Branco

De novo, uma abordagem certeira e com relato pessoal. Acho fantástica a forma como João traz a definição de empatia de uma maneira didática neste vídeo. O marqueteiro, como ele mesmo se define, é bastante sincero ao reconhecer que não é fácil se alegrar com quem se alegra ou chorar com quem está chorando, mas mostra que conhecer e perceber as pessoas que estão ao nosso redor é um ato de humanidade. E gosto muito quando ele coloca a empatia como uma decisão, uma escolha. É sobre fazer uma tentativa de olhar o mundo ‘alguns passos para o lado’, por um ângulo menos pessoal e mais com os olhos de outras pessoas.

Cada um traz uma perspectiva interessante e importante para conseguirmos compreender um pouco sobre como o campo da empatia é vasto. Mas dá para perceber como esse sentimento está relacionado intimamente com humanidade e capacidade de conexão.

Complemento com a definição de Augusto Cury, para quem a empatia é uma das funções mais importantes da inteligência, uma vez que propicia a compreensão e o conhecimento de nossos próprios sentimentos e dos sentimentos dos outros. Ou seja, empatia estimula reciprocidade e interconectividade, além de melhorar nossa comunicação pessoal e social.

Por tudo isso, empatia é uma grande habilidade dos líderes do futuro (para mim, pessoalmente, do presente).

Liderança e empatia

Se você acompanha meu conteúdo por aqui ou nas redes sociais, sabe que defendo que as empresas e os líderes, principalmente, ouçam ativamente seus funcionários para tomadas de decisão mais assertivas.

Afinal, a melhor decisão não está diretamente relacionada à “grandiosidade” de um cargo, mas sim à experiência do time.

Ter um ambiente saudável e confiança organizacional é fundamental.

Leia aqui meu texto sobre essa temática.

Em tempos atípicos como o atual, a empatia pode ser a melhor aliada de uma liderança.

Kim Scott, ex-executiva do Google e Apple, tornou-se referência por dar uma nova abordagem à eficiência nos cargos de liderança, batizada por ela de empatia assertiva.

E aqui, antes de continuar, é importante te dizer que há diferentes tipos de empatia. São eles:

Portanto, não vamos confundir: empatia assertiva não é sinônimo de honestidade bruta.

Assertividade é um comportamento que faz com que a pessoa seja capaz de procurar pelos seus próprios interesses, expressar desejos e necessidades, e praticar seus direitos sem acanhamento e sem negar o direito dos outros.

Adendo feito, voltemos para a empatia assertiva pela definição de Kim Scott.

O conceito é simples: para ser um bom chefe, você precisa se importar pessoalmente com o outro, ao mesmo tempo em que confronta essa pessoa diretamente.

A premissa fundamental para conseguir resultados em uma equipe é dizer às pessoas, de forma clara e direta, quando o trabalho está aquém das expectativas.

E qual o desafio? A maioria de nós foi acostumada a não dizer.

Seja para não magoar ou porque não nos importarmos, a verdade é que dificilmente temos essa cultura assertiva de feedbacks empáticos.

Muitos líderes pensam que se não tiver nada de gentil para dizer, é melhor não dizer nada. No entanto, isso acaba desencadeando atitudes de confronto com seus liderados quando algo não sai como esperado ou o resultado não é alcançado.

Desenvolver a empatia assertiva compreende a aplicação de algumas estratégias, como:

Incentivar o grupo a contribuir com ideias inovadoras;

Aprender a partir dos erros e compartilhar aprendizados;

Promover um ambiente de confiança e feedbacks construtivos;

Remover barreiras e estimular uma comunicação mais eficaz;

Reconhecer e motivar.

Fica a recomendação de leitura do livro “Empatia Assertiva – Como ser um líder incisivo sem perder a humanidade”, da Kim Scott, para que você encontre ainda mais dicas de comportamentos de uma liderança cada vez mais conectada com as pessoas e as tendências.

Uma ferramenta que pode te ajudar é a construção de um mapa de empatia.

Essa estrutura auxilia no conhecimento e entendimento do público (tanto interno quanto externo) da empresa. Consiste em uma imersão de conhecimento das pessoas em que é possível olhar mais concretamente para suas dores e expectativas.

A estrutura ou o formato podem ser pessoais – você pode fazer digitalmente ou até em papel – o importante é detalhar o perfil da persona usando como base informações de seu estilo de vida, necessidades, anseios, objeções e dores.

Para elaborar um bom mapa da empatia, considere sete questões essenciais:

O que ele vê?

O que ele pensa?

O que ele ouve?

O que ele fala?

O que ele faz?

Quais são suas dores?

Quais as necessidades e desejos?

Seja detalhista nas subperguntas e nas respostas. Elas devem estar dispostas em um quadro dividido em quatro setores (o que pensa e sente; o que escuta; o que vê; o que fala e faz) e dois blocos inferiores para as dores e necessidades/desejos.

Ao distribuir as informações e fazer uma imersão nas respostas, você conseguirá enxergar melhor como é seu público.

A partir daí, fica mais fácil praticar a empatia assertiva com cada integrante do time ou com a equipe de forma geral, pois você consegue se conectar com aspectos individuais e coletivos.

6 hábitos para desenvolver a empatia

Neurocientistas identificaram em nosso cérebro um conjunto de circuitos da empatia com 10 seções; biólogos mostraram que somos animais sociais que evoluímos naturalmente para sermos empáticos e cooperativos; e psicólogos revelaram que até mesmo crianças de três anos são capazes de sair de si mesmas e ver a partir da perspectiva de outra pessoa.

Diante disso, te pergunto: somos egoístas por natureza?

Apesar de um certo instinto de autoproteção, há evidências de que somos também homo empathicus, isto é, fisicamente equipados para sentir empatia.

Ainda assim precisamos ativar nossos circuitos para sentir empatia. E aqui vão 6 hábitos percebidos em pessoas empáticas que você pode transformar em atitudes e práticas diárias:

Ative, use e anime seu cérebro empático: reconhecer que a empatia está no cerne da natureza humana e pode ser expandida ao longo de nossas vidas, busque desenvolver estruturas mentais empáticas.

Dê um salto empático: faça esforços conscientes para colocar-se no lugar de outras pessoas e reconhecer sua humanidade, individualidade e perspectivas.

Pratique aventuras experienciais: explore culturas diferentes das suas por meio de imersão direta, cooperação social e entendimento pleno.

Exercite a arte da convenção: dê espaço à curiosidade pelo estranho e à escuta ativa.

Viaje por universos diferentes: leve sua mente para se conectar com outras pessoas com a ajuda da arte, da literatura, do cinema e das redes sociais. Perceba e explore os sentimentos dos outros, mesmo sem estar de fato no local.

Inspire a transformação: junte-se a mais pessoas para gerar empatia numa escala de massa e promover mudança social.

Para encerrar, compartilho uma reflexão importante sobre a sociedade desigual em que vivemos e como ela pode ser desafiadora para praticar empatia.

A excelente fala de Carolina Nalon neste TED nos lembra que tentar tratar todo mundo de igual pra igual numa sociedade que é desigual, é uma atitude violenta. Ou, como li outro dia, que o “tamanho único não serve para todo mundo”.

Conseguir enxergar privilégios e o real impacto das nossas falas e ações é passo fundamental para não repetirmos atitudes e conseguirmos ter a empatia que a realidade de cada ser humano impõe.

Não adianta eu querer praticar a mesma empatia com todas as pessoas se cada realidade, situação, contexto e história de vida transforma os indivíduos de forma única. Como a Carolina destaca no vídeo, a filósofa Djamila Ribeiro define com maestria:

“Empatia não é saber me colocar no lugar do outro, porque eu nunca vou saber como é estar no lugar do outro. Empatia é saber como meu lugar impacta no lugar do outro”.

Entender que estamos, sim, em um lugar de privilégio, independentemente do grau, é também um ato de humanidade, amor e empatia.

Quer saber mais sobre como desenvolver empatia ou utilizar alguma das ferramentas que destaquei aqui? Me envie um e-mail.

Aqui no blog tem bastante conteúdo para te ajudar a ser um líder mais empático, assertivo e flexível, assim como no meu Instagram. Vamos nos conectar!