Descolonização da Moda

Nos últimos anos tem ganhado força um movimento que busca repensar a maneira pela qual se encara o mundo no chamado sul global. É o pós-colonial (ou estudos pós-coloniais ou pós-colonialismo, como também é referenciado), cujo objetivo central é dar voz e protagonismo ao pensamento e às visões de mundo dos povos originários de países que foram, em algum momento, colonizados. Além de produzir conhecimento, este movimento tem repercussões em muitas outras áreas da vida humana e se faz presente no cotidiano das pessoas mesmo que não se perceba.

A moda é um exemplo disso e de acordo com Larissa Henrici, docente da área de moda do Senac São Paulo, o novo olhar sobre a maneira como nos vestimos seria uma insurreição contra os padrões que foram impostos pelos colonizadores e, por isso, tidos como hegemônicos nos países colonizados. Henrici explica que, “historicamente, os conceitos clássicos de moda sempre estiveram ligados à Europa, sendo a França considerada o berço da moda mundial e detentora da prática de alta costura.” O processo de subversão dessa visão e a valorização daquilo que é local e originário são fundamentados justamente pela perspectiva decolonial e acontecem em países da América Latina, no continente africano e na Oceania.

Mas o que seria, então, a moda originária do Brasil? Larissa Henrici comenta que pelo próprio modo como o país se formou, seria muito difícil identificar algo genuinamente brasileiro. Ela comenta, por exemplo, que a primeira participação do Brasil na moda global se deu na lógica colonial e extrativista, através das tintas de cor vermelha que eram obtidas da madeira pau-brasil para tingimento de roupas. Diante disso, Henrici defende que “o mais sensato é evidenciar os povos originários, a cultura afro brasileira e as culturas regionais de um país continental e plural”, assim como, atualmente, dar destaque às produções que vêm das periferias. “Valorizar isso já é um caminho decolonial”, completa.

Ainda assim é possível observar algumas expressões culturais no campo da moda que, mesmo que tenham sido impactadas pela influência europeia, se mantêm como importantes referências de identidades e práticas locais, tendo sido pensadas e repensadas a partir delas. A docente dá como exemplos a chita, de influência indiana e que foi trazida pelos portugueses; o linho, que mesmo não sendo uma fibra natural do Brasil tem grande importância nacional e regional, no Ceará; e produções com o jeans, trazido dos Estados Unidos, e com o couro, também “importado” uma vez que, originalmente, não havia bois no território brasileiro.

Os produtos que são fruto de releituras a partir da perspectiva do processo de descolonização também têm apelo no mercado e se tornam importantes fontes de renda para as pessoas que os fazem. Neste sentido, o capim dourado do Jalapão pode ser um exemplo, assim como a renda de bilro, uma técnica que foi trazida ao Brasil pelos portugueses e se concentra, hoje, em São Luís e Florianópolis.

Essa utilização de saberes regionais para a produção contemporânea de moda é o caminho a se seguir, segundo a professora. “Em resumo, a moda brasileira deveria referenciar suas raízes e ser coletiva, diversa, descentralizada e estar em sintonia com a natureza”, diz Henrici, que ainda aponta que a moda é capaz de oferecer um caminho para a leitura da sociedade em um determinado tempo histórico e que a sua reinvenção deve ser, portanto, encarada como resistência, um ato político.

Tradição na área da moda

Com tradição na formação de profissionais na área de moda, o Senac oferece uma trilha formativa inovadora com portfólio amplo em diferentes níveis de ensino, como: cursos livres, técnicos, graduação, pós-graduação e extensão universitária. A instituição contribuiu na formação de muitos profissionais que atualmente brilham no universo da moda. Além disso, investe em parcerias educacionais com profissionais atuantes e que são referência no mercado de trabalho, como o estilista João Pimenta, que desde 2018 é consultor criativo da área de moda do Senac São Paulo.