Pesquisa promovida pela plataforma Gleeden revela que, na teoria, os brasileiros apoiam as relações não monogâmicas, mas, na prática, preferem a infidelidade
Maior plataforma de encontros não monogâmicos do mundo, o Gleeden acaba de divulgar “O Mapa da Não Monogamia no Brasil”, que ouviu 1.036 brasileiros de diversos estados civis, idades e localidades, entre 23 de outubro e 1° de novembro deste ano. O objetivo da pesquisa é entender se as pessoas sabem, de fato, o que são as relações não monogâmicas, como as enxergam, quais os tabus em torno do tema e quais as diferenças em relação à infidelidade.
Logo de cara, os entrevistados foram perguntados se sabem definir os diferentes tipos de relação. E as respostas foram as seguintes: 50% dizem conhecer o poliamor, 33% não sabem do que se trata e 17% não têm certeza; 56% dizem conhecer os relacionamentos não monogâmicos; 30% não sabem do que se trata; e 14% não têm certeza; 73% dizem conhecer os relacionamentos abertos, 23% não sabem do que se trata e 4% não têm certeza; enquanto 57% dizem conhecer o swing, 32% não sabem do que se trata e 11% não têm certeza.
Quando questionados se já estiveram em um relacionamento não monogâmico, a grande maioria (81%) diz que “não, nunca”, ao passo em que 17% admitem que “já viveram uma relação desse tipo” e 2% preferiram não responder. Mas será que eles gostariam de viver uma relação desse tipo? 66% dizem que “não, com certeza não”; 16% “não têm certeza se gostariam”; 14% “sim, gostariam com certeza”; e 4% preferiram não responder.
A pergunta seguinte do estudo quis saber o que impede as pessoas de colocar em prática a não monogamia. Com mais de uma resposta possível, 50% dos brasileiros “não têm interesse em se relacionar com outra pessoa, só com o(a) parceiro(a); 30% “não querem que o(a) parceiro(a) fique com mais ninguém; 20% acham “que não é socialmente correto”; 12% “têm medo de perder o(a) parceiro(a); e 10% “porque o(a) parceiro(a) não quer”.
“As pessoas pensam que sabem o que são relacionamentos não monogâmicos, mas, na realidade, há muita confusão, desconhecimento e preconceitos. Por isso, precisamos falar mais sobre eles”, afirma Luciane Cabral, sexóloga do Gleeden no Brasil. “Na nossa cultura, assumir ou se identificar com uma relação não monogâmica não é nada fácil, não é algo praticável. Temos muitos tabus para desconstruir, inclusive sobre práticas sexuais não monogâmicas – e não necessariamente sobre relações afetivas”, acrescenta.
Não monogamia fiel ou monogamia infiel?
Um dado trazido pelo “Mapa da Não Monogamia no Brasil” que chama bastante atenção é que 51% dos ouvidos, num cenário em que uma pessoa comprometida se relaciona com outras, falaram que “prefeririam viver uma não monogamia”, enquanto apenas 13% “prefeririam ser monogâmicos e infiéis” – 36% não têm opinião a respeito.
Para os brasileiros, a infidelidade pode ser melhor que a não monogamia, porque “a pessoa não quer que seu parceiro fique com mais ninguém” (44%); “é melhor não saber que o(a) parceiro(a) se relaciona com outras pessoas” (30%); “têm medo de perder o(a) companheiro(a)” (24%); e porque “o(a) parceiro(a) não quer ter um relacionamento não monogâmico” (13%)
O que os brasileiros acham dos não monogâmicos e dos infiéis
Quase metade dos entrevistados (47%) considera as relações não monogâmicas “boas, já que fazem felizes os envolvidos”; 27% “não se importam, desde que isso não aconteça com eles”; 20% “não gostam e não concordam com esse tipo de relacionamento”; e 6% preferem não opinar a respeito.
Já sobre a infidelidade, 63% dos brasileiros ouvidos disseram que “não gostam e não concordam com esse tipo de atitude”; 21% “não se importam, desde que isso não aconteça com eles”; 10% acham “certo, pois os infiéis estão tentando ser felizes”; e 6% preferem não opinar.
“Eu nunca, mas conheço quem já fez…”
Outra resposta bastante reveladora do “Mapa da Não Monogamia no Brasil” está relacionada à diferença entre a quantidade de pessoas que admitem já ter vivido um relacionamento não monogâmico ou já ter sido infiéis e a quantidade de pessoas que conhecem alguém que já viveu um relacionamento não monogâmico ou já foi infiel.
Questionados se já estiveram em uma relação não monogâmica, 81% dizem que “nunca, jamais participaram de algo assim”, enquanto 67% conhecem “alguém que já manteve esse tipo de relacionamento – apenas 17% admitem que já viveram a não monogamia (2% não responderam), ao tempo que o dobro (33%) conhece alguém que já viveu.
Esse número, no entanto, é muito mais discrepante quando o assunto é a infidelidade: enquanto apenas 23% admitem que “já foram infiéis estando em uma relação monogâmica”, 89% dizem “conhecer alguém que já foi infiel”
“Há muito temor em assumir relações não monogâmicas, enquanto vemos muitas extraconjugais. Os relacionamentos não monogâmicos são frequentemente confundidos com a infidelidade. E, embora na teoria se acredite que é melhor estar numa relação não monogâmica, na prática as pessoas preferem ser infiéis”, pontua a sexóloga.
A especialista explica que a maioria dos brasileiros, por pudores sociais, culturais ou possessividade, acaba ignorando os seus próprios desejos sexuais. “Esse estudo do Gleeden nos ajuda a concluir que a nossa sociedade parece ainda não estar preparada para uma mentalidade mais aberta nas relações sexuais-afetivas. Embora não consigam explorar seus desejos sexuais em relações monogâmicas, por cultura, religião, crença ou tabu, as pessoas buscam essa satisfação ‘fora de casa’, sem consenso do parceiro”, finaliza a sexóloga do Gleeden no Brasil.
O perfil sociodemográfico dos entrevistados
Entre os entrevistados, 53% se identificam como mulheres e 47%, como homens. Em relação à idade, 21% têm de 18 a 24 anos; 36%, de 25 a 40 anos; 31%, de 41 a 60 anos; e 12%, de 61 a 75 anos. Sobre a situação do relacionamento, 45% se dizem casados; 33%, solteiros; 11% namoram; 4% estão conhecendo pessoas, sem compromisso; 2%, noivos; e 5% têm outro tipo de relação.
A maior parte vive no estado de São Paulo (25%), que é seguido por Bahia (12%), Paraná (8%), Rio Grande do Sul e Goiás (ambos com 7%), Distrito Federal (5%), Pará, Rio Grande do Norte e Espírito Santo (os três com 4%) – 24% estão espalhados pelos demais locais do país. 48% residem em uma capital; 28%, no interior; 20% em regiões metropolitanas; e 5%, no litoral.