O cérebro precisa de estímulo sonoro para identificar os diversos tipos de sons conduzidos pelo ouvido. Em caso de surdez mais grave, ruídos mesmo não identificados podem servir de alerta
Há como reverter um caso de surdez severa profunda, daquelas em que a pessoa praticamente não ouve mais? A resposta é sim, embora os casos sejam raros e, normalmente, as chances de conseguir escutar de forma clara são pequenas. Mas é possível, se houver uma condição mínima de recepção de som, oferecer ao menos a possibilidade de ouvir sons de alerta. Ainda que a capacidade de identifica-los não exista mais.
“Sempre que houver algum resquício auditivo no paciente para uma condição sonora, mesmo que seja em altos decibéis, nossa obrigação é adaptar esse paciente para uma prótese auditiva”, explica Marcia Bonetti, fonoaudióloga e responsável técnica da Audiba, empresa de próteses auditivas. “Porque esse paciente precisa seguir com sua vida e certamente vai precisar, por exemplo, atravessar a rua. E com esse aparelho, vai poder ouvir uma buzina ou algum ruído que o impeça de sofrer um acidente”, informa.
A tecnologia empregada atualmente em aparelhos auditivos já permite que casos de surdez severa profunda sejam atendidos para permitir à pessoa que enfrenta o problema seguir recebendo estímulos sonoros, ainda que não seja mais capaz de entender exatamente o significado do que está recebendo.
Dados de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 5% da população brasileira, algo em torno de 10 milhões de pessoas, sofrem com algum problema relacionado à surdez. Desse total, 2,7 milhões não conseguem ouvir absolutamente nada.
Prevenção é o melhor caminho
É preciso, porém, agir de forma preventiva. O que significa, em casos em que o problema não é de nascença ou estar atento aos primeiros sinais da perda de audição. Que podem ser o volume excessivo da TV, a dificuldade de entender o que as pessoas estão dizendo – e a necessidade constante de pedir para que o interlocutor repita o que foi dito -, quadro de irritabilidade frequente e até certo desejo de evitar contato com amigos e parentes. “Quanto mais o paciente demorar para procurar ajuda de um profissional para fazer a adaptação a um aparelho auditivo, mais difícil essa adaptação se torna”.
O ouvido é um condutor sonoro. Ele faz a captação dos sons para que o cérebro processe e identifique essas informações. Deixar o problema evoluir significa também deixar de mandar estímulos sonoros para o córtex cerebral responsável pela audição. O que faz com que o órgão pare de processar e codificar as informações. Como resultado, é possível até ouvir sons, mas começa a ficar mais difícil identifica-los, entender exatamente o que está sendo dito ou o que chega através dos ouvidos. “É como ir à academia, quanto mais você se exercita, mais músculos ganha. Quanto mais som eu mandar para o cérebro, maiores as possibilidades de que ele os identifique”, compara Marcia.
Assim, em casos de perda profunda ou severa, o trabalho do profissional fonoaudiólogo responsável pela adaptação à prótese é encontrar o aparelho que atenda melhor à necessidade do paciente. Ainda que ele não seja mais capaz de compreender o estímulo sonoro que recebe, vai poder receber sons importantes para estar consciente do que se passa ao seu redor.
E nesses casos, é fundamental que o paciente seja acompanhado pela empresa ou profissional que faz a adaptação ao uso da prótese. “O acompanhamento é fundamental para que a adaptação seja bem sucedida”, esclarece Marcia. “É preciso acompanhar o paciente para fazer os ajustes necessários de acordo com os exames, para saber se a resposta é positiva em relação à prótese, para a higienização adequada, para o acompanhamento da pessoa que está fazendo uso do aparelho”, detalha. O acompanhamento precisa ser mensal, até que o profissional responsável pela adaptação entenda que é possível dar alta, e que a pessoa está perfeitamente adaptada à prótese.