Covid-19, crise econômica e isolamento social criaram um cenário propício para transtornos psicológicos como ansiedade e distúrbio do sono. Para lidar com eles, um novo caminho vem sendo explorado: houve aumento da procura por tratamentos relacionados ao uso medicinal da cannabis.
Desde 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite a importação de remédios à base de canabidioides contidos na erva, como o CBD. O número de pacientes cadastrados na agência saltou de 10862 em 2019 para 26885 em 2020, dos quais 10695 em São Paulo.
No ano passado, surgiu outra novidade: a possibilidade de comprar os derivados da planta diretamente nas farmácias.
O fato também chamou a atenção do Centro de Excelência Canabinoide (CEC), um dos primeiros empreendimentos da área de cannabis medicinal do Brasil. De acordo com os registros do serviço de atendimento ao cliente do CEC, a procura pelo uso medicinal da cannabis para quadros de ansiedade e insônia, aumentou bastante na pandemia.
Antes da pandemia, a busca pelo tratamento para essas patologias, ocupava sempre o quinto ou sexto lugar da lista das 10 doenças mais buscadas pelo serviço. Hoje perde apenas para dores crônicas. Outro dado relevante é que dos 10 atendimentos realizados no dia, pelo menos a metade são de casos relacionados a transtornos psicológicos, como ansiedade e insônia.
Vantagens do uso do canabidiol para essas patologias:
Evidências mostram que o CBD pode ter uma interação positiva com receptores de serotonina, sendo muito promissor no tratamento de ansiedade e distúrbios do sono. De acordo com estudos, o CBD está sendo considerado um medicamento de ação rápida – e com menos efeitos colaterais do que os remédios tradicionais. Isso acontece porque o CBD atua no sistema endocanabinoide, responsável por manter a homeostase do organismo, ou seja, atua no equilíbrio do corpo, para que este desempenhe suas funções corretamente.
Além disso, há também estudos que mostram que o CBD é capaz de induzir alterações neuroplásticas no córtex pré-frontal e no hipocampo (estruturas envolvidas no desenvolvimento de transtornos psicológicos) e, assim, demonstram mais uma vez seu potencial terapêutico.
O problema:
A regulamentação para comercialização de medicamentos nas farmácias brasileiras não ajudou no acesso. Apenas um produto foi registrado, com custo bastante alto para os padrões brasileiros.
A capacitação dos médicos também constitui uma barreira. O Brasil possui cerca de 500 mil médicos clinicando, mas, no mesmo período de 2015 a 2018, o número de profissionais que prescrevem medicamentos à base de cannabis passou de 321 para 911. Embora o aumento seja expressivo, o percentual chega a apenas 0,2%.
Falta de ambiente mais favorável e aberto gera:
Custos impeditivos para o tratamento devido à necessidade de importação dos medicamentos.
Riscos por conta da busca de produtos no mercado informal.
Afastamento da classe médica por incertezas sobre substâncias, dificuldades na delimitação de dosagens e legalidade da prática.
Ausência de pesquisas científicas.
Impossibilidade de explorar essa vertente para diminuir a pressão sobre os sistemas de saúde.
O que pode ser feito para melhorar esse quadro:
Conscientização da sociedade sobre os benefícios do tratamento para a melhoria dos sintomas em diversas doenças, inclusive transtornos psicológicos, quebrando preconceitos e esclarecendo possibilidades.
Cultivar a planta no Brasil para estimular a produção nacional de medicamentos, com redução nos custos
Capacitação dos profissionais da saúde
Ação específica do CEC:
Para ajudar pessoas que estão sofrendo com transtornos psicológicos na pandemia, o Centro de Excelência Canabinoide está lançando um programa de atendimento voltado ao tratamento de patologias relacionadas a ansiedade e distúrbio do sono.
O atendimento será feito via telemedicina e com custo reduzido. A medida foi tomada com o intuito de contribuir para a melhora da qualidade de vida das pessoas e para proporcionar o bem-estar por meio do uso da cannabis medicinal.
Fontes:
Dr. Laerte Rodrigues, Clínico Geral, Cirurgião Geral e Intensivista. Especializado em atendimentos de pacientes que estão à procura de bem-estar e qualidade de vida.
Pacientes que realizam o tratamento com o uso medicinal da cannabis