Pesquisa mostra que perda de audição pode causar demência na população

Em todo o mundo, mais de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência, número que deve quase triplicar em 2030, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora multifatorial, a deterioração neurocognitiva tem fatores de risco evitáveis. Entre eles, a perda auditiva não tratada, segundo um estudo com dados de 438 mil pessoas, considerado um marco histórico por especialistas. Os autores destacam que há vários elementos que podem influenciar a associação, incluindo a conexão de neurônios relacionados à audição e à cognição.

Segundo a fonoaudióloga, Camila Quintino, uma medida que pode prevenir e amenizar o problema está, justamente, nos cuidados com nossa audição. Estudos recentes demonstram que a perda auditiva provoca mudanças no funcionamento do cérebro, tanto em áreas auditivas quanto em áreas não auditivas. Sendo assim, a privação sensorial poderia ser um dos fatores que aumenta o risco de um indivíduo desenvolver demência.

“A perda da audição é comum com a idade, mas ela pode piorar casos em que o paciente apresente algum distúrbio no cérebro. É importante lembrar que a audição é fundamental para que possamos perceber o mundo que nos rodeia. Ouvir bem ajuda no desenvolvimento da cognição e na compreensão do mundo”, explica a especialista.

Ainda segundo ela vale ressaltar que com o passar dos anos é natural que nosso corpo apresente falhas na audição. Como essa perda ocorre gradualmente, a maioria das pessoas não percebe que está com dificuldades para escutar. Os primeiros sinais são percebidos pelos parentes próximos, pois o idoso passa a pedir para repetir o que foi dito, não entende o que foi falado ou aumenta o volume da tevê e do celular.

“ A situação é mais perceptível em ambientes ruidosos, com muitas pessoas falando ao mesmo tempo, como uma festa. O idoso não consegue ouvir e perde o interesse em participar da conversa e interagir. Existe, aos poucos, um isolamento causado pela perda auditiva”, relata Camila.

Alguns pacientes podem apresentar zumbido, em uma ou nas duas orelhas. Apesar de não ser uma doença, o zumbido é um sinal importante de que algo no corpo não está bem e pode ser o primeiro sinal de problemas na audição.

O grau de perda auditiva relacionado ao envelhecimento é impactado por muitos fatores. Entre os principais estão os genéticos (histórico familiar de perda auditiva) e histórico de saúde. Há ainda algumas outras razões que contribuem para o aparecimento da perda auditiva, como exposição prolongada a sons de forte intensidade no trabalho ou em atividades de lazer, doenças cardíacas, problemas metabólicos (diabetes, alterações no colesterol, hipotiroidismo, hipertiroidismo…), hipertensão arterial, problemas circulatórios e a utilização de alguns medicamentos. A maior parte desses fatores pode ser evitada ou controlada com o correto acompanhamento e tratamento médico.

“ A reabilitação auditiva pode ser uma alternativa para tratar os efeitos do envelhecimento na audição.Antes de tudo, é necessário consultar o médico otorrinolaringologista. Ele vai poder dar o diagnóstico otológico adequado e realizar a prescrição da reabilitação auditiva e da prótese auditiva/implante coclear, se for o caso”, ressalta a especialista.

Camila também alerta que o fonoaudiólogo é o profissional habilitado para fazer os exames audiólogicos e também o processo de reabilitação auditiva. “ É ele quem atua na seleção, adaptação, verificação e validação das próteses auditivas. O fonoaudiólogo está preparado para avaliação, programação e acompanhamento dos implantes cocleares, treinamento de leitura orofacial, treinamento auditivo e/ou terapia fonoaudiológica”.