Nas últimas décadas, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) passou a ser mais amplamente discutido, especialmente em crianças. Mas o que acontece quando alguém só começa a desconfiar de que tem o transtorno já na vida adulta? Será que vale a pena ir atrás de um diagnóstico tardio? E se o transtorno não foi identificado na infância, isso significa que a pessoa está livre dele? Para responder a essas e outras dúvidas, a psiquiatra especialista em TDAH, Dra. Jéssica Martani, desmistifica alguns dos principais mitos e verdades sobre o TDAH e explica como ele pode se manifestar em adultos.
A médica desmistifica que o diagnóstico é feito na vida adulta, mas que é possível ter TDAH sem ser diagnosticado na infância já que muitas crianças com TDAH passam despercebidas no ambiente escolar, seja por terem desenvolvido estratégias para mascarar os sintomas, ou por apresentarem apenas o tipo desatento do transtorno, que não chama tanta atenção quanto a hiperatividade. “Nem toda criança com TDAH é aquela que não para quieta na sala de aula”, explica a psiquiatra. “Algumas podem ser vistas apenas como ‘distraídas’ ou ‘desorganizadas’. Se o transtorno não foi identificado na infância, isso não significa que ele tenha desaparecido. Muitos adultos acabam descobrindo o TDAH mais tarde na vida, especialmente ao enfrentarem desafios maiores na carreira ou nas relações.”
O desdobramento disso é que muitas pessoas passam anos lutando com sintomas de desatenção, procrastinação, dificuldade em manter foco e organização, sem entender por quê. “O diagnóstico correto, ainda que tardio, pode não apenas trazer alívio, mas também abrir portas para tratamentos eficazes que melhoram a qualidade de vida e ainda – ao contrário do que alguns acreditam, o TDAH não desaparece com a idade”, afirma a médica que diz que o transtorno pode até se manifestar de forma diferente, mas os sintomas permanecem, especialmente em situações de maior pressão ou mudanças na rotina.
Um dos mitos mais persistentes é que o TDAH seria um “rótulo” para justificar comportamentos como preguiça ou falta de controle. Dra. Jéssica enfatiza que o TDAH é amplamente estudado e reconhecido pela comunidade científica. “É uma condição real, com causas biológicas e genéticas bem documentadas, por isso, dizer que o TDAH é apenas falta de disciplina é ignorar décadas de pesquisa.”
Por outro lado, muitos adultos com TDAH são altamente funcionais e até mesmo bem-sucedidos em suas carreiras. “No entanto, o caminho até lá costuma ser mais árduo, com mais esforço e dificuldades para cumprir prazos, manter a organização e lidar com a procrastinação”, fala a médica que ainda afirma que o diagnóstico não tira o mérito de quem consegue alcançar seus objetivos, mas oferece suporte para que a jornada se torne mais equilibrada e menos exaustiva.
Por isso que, se os sintomas de desatenção, impulsividade ou desorganização afetam a vida pessoal, profissional ou acadêmica, vale a pena procurar a ajuda de um psiquiatra ou neuropsicólogo para uma avaliação completa. E a especialista ainda reforça: “O TDAH pode ser tratado, e quanto mais cedo a pessoa obtém um diagnóstico, mais rápido ela pode encontrar formas eficazes de lidar com os desafios que o transtorno traz.”