Quando sentimos um desconforto físico, procuramos logo um tratamento ou atendimento especializado. Quando nosso celular dá qualquer sinal de problema, não hesitamos em procurar uma assistência técnica. Mas por que, muitas vezes, ao perceber um certo desequilíbrio emocional ou psicológico, tem gente que tem dificuldade de buscar ajuda ou mesmo de admitir para si mesma que está com a saúde mental fragilizada?
Apesar de nos últimos anos – inclusive por conta da pandemia que provocou tantas reflexões sobre nossas atitudes – a saúde mental ter sido mais valorizada e percebida, ainda há muito estigma e receio em abordar questões relacionadas ao emocional.
Talvez porque a gente tenha medo de parecer vulnerável. Talvez porque aprendemos repetidas vezes que precisamos ser fortes e temos que superar todas as dificuldades. Talvez por falta de informação.
A verdade é que, culturalmente, não se ensina ou se fala sobre saúde mental. O tema não é amplamente discutido nas escolas, nas empresas, nas comunidades. Não se conversa disso em rodas de amigos, encontros de familiares.
Paz de espírito, autoconhecimento, autoestima, autoconfiança, autonomia, espiritualidade saudável, solidariedade social, integração com a natureza, respeito às diferenças, educação emocional, entre outras tantas questões estão relacionadas ao nosso equilíbrio emocional e psicológico.
Por sua vez, a vida cada vez mais acelerada e ansiosa que levamos traz à tona a necessidade de falar, discutir e agir pela saúde mental. Esse é o propósito do Janeiro Branco. Criado por psicólogos de Minas Gerais em 2014, o movimento vem para jogar luz e ampliar o debate sobre saúde mental.
Aproveito que no conteúdo de hoje vou falar sobre uma prática essencial para minha jornada – e para todos que desejam alcançar conexão com seu propósito –, o mindfulness, para te convidar a conhecer o site do Janeiro Branco, pois, para mim, a atenção plena é grande aliada da nossa saúde mental.
Isso porque praticamente todos os acontecimentos da nossa vida – sejam processos internos ou externos – interferem muito em nosso emocional. Nossa mente passa naturalmente por alguns momentos de muito estresse e se não estamos verdadeiramente conectados e no controle das nossas emoções, isso pode desencadear uma série de problemas.
De acordo com uma pesquisa da Universidade de Harvard, passamos quase 50% do nosso dia divagando, ou seja, pensando no que não estamos fazendo no momento. Essa divagação acontece porque nosso cérebro automatiza várias tarefas enquanto planeja ou antecipa outras.
O problema nisso é que geralmente essa troca do presente por momentos do passado ou projeções do futuro nos deixa ansiosos, com emoções negativas ou sentimentos de infelicidade.
Aterrissar no presente, no entanto, não é uma tarefa tão simples para muitas pessoas.
Mas é possível “treinar” nossa mente para que ela esteja mais presente e atenta?
Aí é que entra o mindfulness
Uma mente plenamente atenta nos ajuda a entrar em contato com nossa essência, preservando nosso emocional e permitindo que a gente vivencie as experiências da vida com mais consciência.
Se temos mindfulness como uma cultura em nossa vida, conseguimos observar de forma rápida e profunda o que estamos sentindo a cada momento. Aprendemos a reconhecer sem julgar essas sensações; e propositalmente trazemos nossa atenção para o presente.
Diferente de uma prática meditativa, mindfulness é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Isto é, todos nós temos como característica a capacidade de atenção plena (tradução de mindfulness). É uma forma de consciência que emerge quando se presta atenção, de modo intencional, à experiência que acontece no momento presente.
No cérebro, um dos efeitos do mindfulness é a regulação da atenção. A prática influencia o córtex cingulado anterior, que tem a ver com a habilidade de sustentar a atenção sobre um objeto de forma intencional e voluntária, trazendo a atenção de volta quando a mente se distrai.
Já nas regiões do córtex pré-frontal e na amígdala, outro efeito é a regulação emocional. Mindfulness ajusta nosso comportamento às emoções. Finalmente, na ínsula, aumenta nossa consciência corporal, nos ajudando a sentir e perceber mais nosso corpo e estados fisiológicos.
Andy Puddicombe, perito em Atenção Plena, é muito instrutivo nesse vídeo no TEDx explicando a intencionalidade que há em “dar um passo atrás” para enxergarmos nossas emoções e pensamentos de uma perspectiva diferente daquela que experimentamos no dia a dia. Vale a pena assistir a esse vídeo aqui.
Eu só vou ser um pouco mais ousada que Andy, pois ele defende no vídeo o poder transformador de “limpar a mente durante 10 minutos por dia”. Acredito que você pode começar com 1 minuto de prática e já sentir a transformação que acontece.
Atenção à sua atenção
Quando estamos conscientes do que estamos fazendo, a tendência é nos sentirmos mais plenos, satisfeitos e felizes.
Mindfulness faz exatamente isso. Nos traz de volta à consciência do que está acontecendo, aqui e agora.
Mas algo tão simples como inserir pausas no seu dia para acessar seu estado interior e entender o que está sentindo e pensando pode transformar uma vida?
A neurologista Amishi Jha estuda como nosso cérebro decide o que é importante a partir do fluxo constante de informações que recebe. Tanto as distrações externas (como o estresse) quanto as internas (como a divagação da mente) diminuem o poder da nossa atenção.
A especialista narra nesse vídeo um exemplo extremamente impactante de como “prestar atenção à sua atenção” pode realmente mudar o rumo da história de vida de uma pessoa.
Eu aplico, em minhas palestras e treinamentos, um exercício rápido de tomar consciência. E posso afirmar o quão poderoso o mindfulness é para quem quer se conectar com seu verdadeiro propósito.
Você pode começar a praticar agora mesmo. É bastante simples, só precisa da sua consciência plena. Você consegue?
Antes de responder:
A grande questão é que não estamos falando aqui de fechar os olhos e respirar profundamente por alguns instantes enquanto a mente divaga por pensamentos e preocupações que não sejam única e exclusivamente o momento presente.
Quando foi a última vez que você entrou em contato com você mesmo sem pensar em absolutamente nada?
Mindfulness não é o modo piloto automático da mente. Não é “viajar” mentalmente enquanto dirige ou realiza uma atividade física. Não é entrar em estado de flow – foco total em uma tarefa. Também não é colocar o corpo em posição de meditação.
É estar presente no seu mais profundo estado de consciência, conseguir perceber os pensamentos e sensações chegando, sem julgamentos, aceitá-los e voltar a atenção ao momento novamente.
Como eu disse, não é difícil e é uma habilidade que todos nós temos. Mas é preciso treino!
Mindfulness corporativo
Acho que nunca se falou tanto na relação entre saúde mental e ambiente de trabalho como nos últimos tempos.
Quando as empresas passaram a adaptar seus processos para permitirem o trabalho remoto e depois encontraram alternativas para o retorno – parcial ou total – muita gente começou a falar sobre como é possível reduzir o estresse no ambiente de trabalho.
Como especialista em gestão de equipes e desenvolvimento comportamental, acho muito importante que as iniciativas para proporcionar ambientes mais saudáveis ganhem espaço.
Afinal, muito além da oferta de um plano de saúde, é fundamental que as empresas façam investimentos cada vez mais relevantes em programas para promover bons hábitos, prevenir doenças e preservar a saúde integral dos colaboradores. Especial atenção tem sido dada a programas voltados à saúde mental
Essa matéria, que repercute uma pesquisa mundial, mostra que quase 40% das companhias já investem em programas de mindfulness.
Trazer o mindfulness para o meio corporativo é permitir que se pare em meio ao influxo constante de estímulos para decidir conscientemente como agir.
Proporcionar que as pessoas saiam de suas funções multitarefas e promover a concentração total e intencional no presente traz excelentes resultados para as empresas, como mostram essas iniciativas listadas na reportagem da Forbes.
Por quê? Ora, mindfulness conduz a sua atenção para o presente, ou seja, se uma equipe pratica a atenção plena, logo ela é capaz de jogar luz e foco à tarefa mais pertinente daquele momento.
Voltando ao estudo de Harvard que mencionei lá no início, se temos distrações naturais que nos tiram quase metade do tempo consciente, é preciso que as empresas que valorizam o capital humano também ajudem a promover estratégias que gerem o bem-estar e a qualidade do tempo que o colaborador dedica às tarefas.
Novamente, reforço, atenção à sua atenção deve ser o foco da nossa jornada no mindfulness. E isso vale tanto para o pessoal quanto para o ambiente corporativo.
Inclusive, se você quiser saber mais sobre minhas estratégias e treinamentos, envie um e-mail. Vamos desenvolver esse mindfulness!
No meu Instagram (@ligianimeirelles) também compartilho dicas e práticas para que você valorize cada vez mais o seu interior, a atenção à sua essência e a conexão com seu propósito.