Um recente levantamento conduzido pelo projeto Em Um Piscar de Olhos, que avaliou 110.700 alunos entre 6 meses e 15 anos, revelou dados preocupantes sobre a saúde ocular infantil no Brasil. O estudo apontou que 19% dos participantes tinham algum tipo de problema de visão, o que corresponde a cerca de 21 mil jovens. Dentre esses, aproximadamente 18 mil (mais de 80%) não utilizavam óculos ou qualquer forma de correção visual, aumentando o risco de complicações futuras e afetando diretamente seu desempenho escolar e social.
Para entender melhor a dimensão desse problema e como ele impacta o desenvolvimento das crianças, conversamos com a Dra. Gabriela Hoehr, especialista em cirurgia plástica ocular. Segundo a Dra. Gabriela, problemas de visão em crianças muitas vezes passam despercebidos tanto pelos pais quanto pelos educadores, principalmente porque os sinais nem sempre são claros. “A criança nem sempre consegue expressar que não está enxergando bem, e muitas vezes associa o problema a cansaço ou desinteresse, o que pode ser interpretado como falta de atenção ou até problemas comportamentais”, explica.
A falta de correção, como apontam os dados, é um dos fatores mais alarmantes. Para a Dra. Gabriela, isso tem implicações sérias, já que problemas de visão não corrigidos na infância podem levar ao agravamento de condições como miopia, astigmatismo e estrabismo. “Sem o tratamento adequado, essas dificuldades podem comprometer o desenvolvimento visual da criança, afetando seu aprendizado e sua interação social. A fase escolar, em particular, é essencial, pois a visão é uma das principais vias de absorção de conhecimento e desenvolvimento motor”, alerta.
A especialista destaca ainda que muitos pais desconhecem a necessidade de exames oftalmológicos regulares em crianças pequenas, o que contribui para o atraso no diagnóstico e no tratamento de problemas visuais. “Recomenda-se que as crianças passem por uma avaliação oftalmológica já nos primeiros meses de vida, e depois periodicamente, principalmente antes de iniciarem a vida escolar. Isso ajuda a identificar e tratar condições que, se corrigidas a tempo, garantem uma melhor qualidade de vida e aprendizado”, afirma Dra. Gabriela.
O levantamento do Em Um Piscar de Olhos também mostra a importância de programas de conscientização sobre a saúde ocular na infância. Para muitas famílias, o acesso a consultas e óculos pode ser um obstáculo, e campanhas que forneçam triagem e assistência para correção visual são essenciais. “Muitas vezes, o problema está no acesso, e é fundamental que existam políticas públicas para a saúde visual, que contemplem triagens e a distribuição de óculos para crianças que precisam”, aponta Dra. Gabriela.
Por fim, a especialista recomenda que pais e professores fiquem atentos a sinais de problemas de visão, como dificuldade de leitura, aproximação excessiva da tela ou do papel, olhos vermelhos, dores de cabeça frequentes e até desinteresse nas aulas. “Esses são sinais de alerta que podem indicar problemas de vista, e quanto mais cedo forem percebidos, melhores serão as chances de sucesso no tratamento”, conclui.
O estudo do projeto Em Um Piscar de Olhos joga luz sobre uma questão de saúde pública que merece atenção, reforçando a necessidade de medidas de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado para garantir o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes brasileiros.