Doença tem cura e tratamento é disponibilizado gratuitamente pelo SUS
Promovida desde 2016 pelo Ministério da Saúde, a campanha Janeiro Roxo conscientiza toda a população brasileira a respeito da hanseníase. A doença infecciosa é conhecida e reportada há milhares de anos – sendo anteriormente conhecida como lepra – e, apesar dos esforços para erradicá-la, ainda concentra cerca de 30 mil novos casos por ano no Brasil.
O país, inclusive, ocupa a segunda posição no ranking mundial de países com maior número de casos, atrás apenas da Índia. Somente nas Américas, os brasileiros representam 90% dos pacientes diagnosticados com a doença.
De acordo com Flávia Rosalba, dermatologista do Hospital Dia Campo Limpo, unidade sob gestão do Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (CEJAM), algumas situações podem justificar o aumento de casos, fazendo com que o Brasil ocupe essa posição no ranking mundial.
“O diagnóstico tardio da doença, a falta de capacitação técnica de profissionais de saúde, a negligência geral com a doença e o fato de ser uma doença mais frequente em populações menos privilegiadas estão entre as causas para o aumento. Esses indivíduos vivem em situações desfavoráveis, com condições de habitação e alimentação precárias e geralmente escasso acesso à saúde e informação”, explica a médica.
Ao conscientizar a população, a campanha Janeiro Roxo chama a atenção também para o fato de que o diagnóstico da hanseníase é clínico e epidemiológico, o que significa que o mesmo só é possível diante da manifestação de sintomas. O diagnóstico precoce permite o início imediato do tratamento, interrompendo a transmissibilidade (capacidade de contágio) em relação ao paciente tratado.
Segundo a especialista, o mais importante é que a população conheça os sintomas mais comuns (como manchas na pele) e busque atendimento médico precocemente, para, assim, ter um diagnóstico na fase inicial da doença. O período de incubação (tempo entre a contaminação e apresentação do quadro clínico da doença) pode variar de 6 meses a 5 anos.
“A campanha é importante para que a doença deixe de ser negligenciada, ampliando o conhecimento da população sobre seus sinais e sintomas. A hanseníase tem cura e o tratamento é disponibilizado gratuitamente no SUS”, destaca a dermatologista.
“É importante esclarecer que não há necessidade de nenhuma medida higienista em relação à doença, desde que iniciado o seu tratamento, como separar copos, pratos e talheres, ou isolar o paciente”, complementa.
Tratamento e diagnóstico
O tratamento atual contra a hanseníase é feito com antibióticos, que devem ser tomados via oral, tornando o doente praticamente não contagiante a partir da primeira dose das medicações recomendadas.
“É imprescindível que o uso da medicação respeite as indicações da equipe de saúde, sem interrupções. As pessoas que residem junto com o doente devem ser avaliadas pela equipe de saúde, pois a transmissão pode ocorrer antes do início do tratamento. Ter uma vida ‘normal’ depende do estágio da doença no momento do diagnóstico. Infelizmente, é comum o diagnóstico tardio e já com sequelas limitantes”, afirma a médica.
O diagnóstico precoce da hanseníase é essencial para a prevenção de incapacidades do paciente. A evolução da doença leva a lesões incapacitantes tais como dormência, perda de sensibilidade tátil e térmica, perda de força nas mãos, cegueira, entre outras, bem como desfiguração e amputação de membros.
“Além disso, o diagnóstico precoce também ajuda a controlar a transmissibilidade da doença, visto que o atraso no diagnóstico aumenta a exposição e o contágio das pessoas de convívio”, ressalta.
A hanseníase é causada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae e atinge principalmente braços, mãos, pernas, pés, rosto e orelhas, ocasionando manchas esbranquiçadas, amarronzadas ou avermelhadas na pele.
Seus principais sintomas são, entre outros:
– Manchas avermelhadas, amarronzadas ou esbranquiçadas na pele;
– Diminuição da força dos músculos das mãos, pés e face;
– Alteração de sensibilidade na pele;
– Sensação de formigamento;
– Queda de pelos e cabelos;
– Dor e sensação de choque;
– Pele seca e falta de suor;
– Febre, edemas e dor nas juntas.
Segundo a especialista, é importante ressaltar que o contágio da hanseníase não é feito de forma hereditária. “A transmissão da doença é feita exclusivamente por pessoas contagiadas, sem tratamento, através de tosse, espirro e fala. Ou seja, pessoas em tratamento não transmitem a doença”, finaliza.