Tratamento da hanseníase

Especialistas criticam a proposta – atualmente um tratamento pode levar até 24 meses, dependendo do paciente

Hansenologistas da SBH-Sociedade Brasileira de Hansenologia estão preocupados com a proposta de diminuir o tempo de tratamento de doentes de hanseníase no Brasil. Hoje o tratamento dura de seis meses (pacientes com poucos bacilos ou paucibacilares) a 12 ou 24 meses (pacientes com muitos bacilos, chamados multibacilares), mas o Ministério da Saúde decidiu reduzir para seis meses o tratamento para todos os doentes de hanseníase. A SBH-Sociedade Brasileira de Hansenologia é contra porque entende que o tratamento irá “mascarar” a doença.

A SBH lançou um manifesto, com assinatura de várias outras entidades médicas, posicionando-se contra o novo tratamento proposto pelo Ministério da Saúde. Os hansenologistas entendem que o tratamento – chamado MDT-U (multidroga terapia – esquema único) – vai “mascarar” o problema. A proposta do Ministério da Saúde não traz novas drogas: o MDT-U apenas diminui o tempo de tratamento com as mesmas drogas (antibióticos) usados há 40 anos. Ressalte-se também que recentemente a OMS-Organização Mundial da Saúde se posicionou contra o MDT-U.

O Brasil é o 2° país com mais casos de hanseníase (lepra), atrás da índia. Por ano, são registrados cerca de 30 mil novos casos – número similar aos novos casos de HIV/AIDS registrados anualmente. A SBH (entidade com 70 anos, responsável pela aplicação do exame e certificação dos médicos hansenologistas para atuarem no Brasil) estima que os números reais são cinco vezes maiores do que os dados oficiais da doença. É a chamada “endemia oculta”.

Hanseníase é de difícil diagnóstico, mas é a doença infecciosa que mais cega no mundo. É causada por um bacilo que ataca os nervos – doente perde a sensibilidade ao frio, calor, toque e à dor. Paciente pode apresentar manchas esbranquiçadas ou avermelhadas pela pele, mas é comum diagnosticar a hanseníase em pacientes que estão há muitos anos sendo tratados por outras doenças, como artrite ou artrose, por exemplo, sem manchas.

A doença pode levar até 10 anos para se manifestar – enquanto isso, os bacilos vão agredindo o organismo. Mesmo assim, é alto o número de menores de 15 anos diagnosticados com hanseníase, o que mostra que a cadeia de transmissão do bacilo está longe de ser interrompida.

CENÁRIO
O preconceito contra a doença ainda é grande e não são raros os casos de: alunos com hanseníase e suas famílias terem problemas nas escolas; universidades que solicitam desinfecção de auditórios solicitados pela SBH pra treinamento de pessoal da saúde; questionamentos do “número alto” de casos diagnosticados por hansenologistas em diferentes comunidades pelo Brasil; médicos questionados por diagnosticar a doença; e hospitais que ainda isolam pacientes. O preconceito se mantém com a falta de informação e da capacitação de profissionais das mais diferentes áreas. Infelizmente, até nas faculdades e universidades do país o ensino da hansenologia foi reduzido ao mínimo ou extinto.
Durante todo o ano, a SBH promove treinamento/capacitação em hanseníase para médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, agentes comunitários de saúde, etc. em todo o país, especialmente nas regiões de alta endemicidade.

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