Psicóloga do Grupo São Francisco alerta que as agressões intencionais, verbais ou físicas, podem ocorrer em qualquer contexto social: escolas, universidades, famílias, vizinhança e até em locais de trabalho
O caso do australiano Quaden Bayles, de 9 anos, chocou a internet nas últimas semanas. Um vídeo, que viralizou nas redes sociais, mostra o menino chorando após ser vítima de bullying na escola por ter nanismo e trouxe à tona uma discussão séria sobre o tema.
Segundo Mônica Lange, psicóloga do Grupo São Francisco – que faz parte do Sistema Hapvida -, o fato do bullying ter consequências trágicas para os envolvidos como depressão, comportamentos de automutilação e até suicídios, e uma chocante e recorrente impunidade, é extremamente importante discutir o tema de forma séria e responsável.
“Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por uma ou mais pessoas contra um ou mais colegas. E podem ocorrer em qualquer contexto social: escolas, universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho”, explica Mônica. “E o que parece um apelido inofensivo, por exemplo, pode afetar emocional e fisicamente a pessoa ofendida”, completa.
De acordo com a psicóloga, quando o bullying acontece na escola, além de um possível isolamento social e queda do rendimento escolar, as crianças e adolescentes podem desenvolver doenças psicossomáticas, que influenciarão negativamente os traços da personalidade. “Em casos extremos, a prática pode afetar de tal forma o estado emocional do jovem, que ele opta por desfechos trágicos, como o suicídio”, alerta.
Quais as características do bullying?
Mônica Lange afirma que todo bullying é uma agressão, mas que nem toda agressão é bullying. Para ser, a agressão física ou moral deve apresentar as seguintes características: intencionalidade do autor em ferir a vítima; repetição/recorrência da mesma agressão; presença de um público espectador; e aceitação passiva da vítima em relação à agressão.
“Isso porque, entende-se que quando o alvo supera a agressão, seja reagindo ou ignorando, isso acaba desmotivando a repetição da ação pelo autor”, explica a psicóloga do Grupo São Francisco.
Mas, ela alerta que o espectador também é participante do bullying. “Ainda que por medo de reagirem, os pares que testemunham o fato e não fazem nada são tão coautores da ação quanto os que incentivam”, comenta.
Influência da internet
Mônica explica que, apesar do bullying não ser um fenômeno recente, com a influência das redes sociais e da internet, tornou-se mais popular e suas características ofensivas estão tomando proporções gigantescas.
“O autor típico do bullying é alguém que ainda não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo. Pelo contrário, sente-se satisfeito com a opressão do agredido. Em sua percepção isso o empodera e o torna mais ‘popular’, ‘respeitado’ e ‘temido’ entre os pares e colegas”, afirma.
Consequências
De acordo com a psicóloga, tanto as vítimas quanto os agressores podem sofrer consequências psicológicas associados ao bullying como: baixa autoestima, dificuldade de aprendizado, evasão escolar, dificuldade de socialização, ansiedade, medo, baixa imunidade e transtornos psiquiátricos.
“Ao notar alguns desses sintomas ou se a criança ou o adolescente começar a alterar seu comportamento em casa, a família deve conversar e procurar ajuda. Quanto mais cedo for detectada a prática do bullying, menos estragos deixará na vítima”, afirma a especialista.
Para Mônica, o desafio de prevenir e enfrentar o bullying é entender o que está por trás da dinâmica entre agressor e agredido. “Compreendendo que no comportamento de quem fere, sempre há alguém ferido. E, assim, poder desenvolver a inteligência socioemocional e transformar ciclos viciosos e doentios em relações virtuosas, promovendo um ambiente de maior respeito e entendimento entre todos, destacando atitudes como: empatia, autocrítica, gerenciamento das próprias emoções e dos próprios pensamentos, construção de alicerces internos e externos”, conclui.