Uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou um dado alarmante: os homens brasileiros vivem, em média, 7 anos a menos que as mulheres. Enquanto elas atingem expectativa média de vida de 81 anos, eles não passam dos 74. Embora fatores biológicos tenham algum peso nessa diferença, especialistas apontam que o principal motivo está no comportamento em relação aos cuidados com a própria saúde, os homens vão menos ao médico, fazem menos exames preventivos e ignoram sintomas importantes, o que muitas vezes resulta em diagnósticos tardios e complicações evitáveis.
O urologista Elizeu Neto observa esse cenário de perto no dia a dia do consultório. “Muitos homens só procuram atendimento quando a dor ou o incômodo se tornam insuportáveis. Isso é muito comum em casos de câncer de próstata, por exemplo, que é silencioso no início e tem altas chances de cura quando detectado precocemente. Mas, por medo, preconceito ou negligência, o paciente acaba chegando tardiamente, quando as opções de tratamento já são mais limitadas”, explica.
Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 70% dos homens brasileiros só buscam atendimento médico quando o problema já está em estágio avançado. Além disso, dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostram que menos de 30% dos homens realizam exames de rotina anualmente, mesmo aqueles acima de 40 anos, faixa etária em que o rastreio de doenças como o câncer de próstata deveria ser intensificado.
Para o Dr. Elizeu, a cultura do “homem que não adoece” ainda está muito enraizada. “Existe uma ideia ultrapassada de que procurar o médico é sinal de fraqueza, de que suportar dor é ‘coisa de homem’. Essa visão machista sobre saúde cobra um preço altíssimo. A verdadeira masculinidade está em cuidar de si mesmo, em viver mais e melhor ao lado da família, com qualidade de vida.”Além do câncer de próstata, outras condições como hipertensão, diabetes, colesterol alto e doenças cardiovasculares também são menos acompanhadas entre homens. Essas doenças são, muitas vezes, silenciosas e se desenvolvem por anos sem sintomas aparentes o que reforça a importância dos exames periódicos. “Um check-up anual pode identificar alterações antes que se tornem graves. E esse cuidado deve começar cedo. Não é só quando se envelhece que se precisa fazer exames”, enfatiza Elizeu.
O médico ainda destaca a importância da escuta e da quebra de tabus na relação médico-paciente. “A consulta urológica ainda é cercada de preconceitos. Muitos homens têm vergonha de falar sobre saúde sexual, alterações urinárias ou até mesmo pedir um exame. Mas quanto mais naturalizarmos esse cuidado, mais vidas podemos salvar. O médico não está ali para julgar, mas para orientar.
”Neste cenário, campanhas como o Novembro Azul continuam sendo fundamentais, mas especialistas defendem que o cuidado com a saúde do homem deve ser incentivado o ano todo, e não apenas em datas específicas. “A longevidade masculina está diretamente ligada à prevenção. O homem que se cuida, que se consulta regularmente, que faz seus exames e que adota hábitos saudáveis, tem muito mais chance de viver bem e por mais tempo”, finaliza o urologista Elizeu Neto.
Com base nos dados atuais, fica claro que viver mais não depende apenas da genética ou da sorte, depende de atitude. E procurar o médico com regularidade é o primeiro passo para mudar essa estatística.