Refletindo sobre formas de combate ao bullying

Dia 20 de outubro foi designado como Dia Mundial de Combate ao Bullying com o propósito de sensibilizar para a necessidade de eliminar essa prática, que, a despeito de ser amplamente condenada, continua aumentando.

Parece desnecessário discorrer sobre danos e consequências. O noticiário se encarrega de, periódica e alarmantemente, expor os extremos a que chegam vítimas antes de cometerem suicídio. O ponto a refletir é que o final – o suicídio – já pode ser antecipado quando uma chacina se inicia. A vítima optou por inverter papéis antes de cabo da vida que já lhe havia sido roubada.

De forma mais branda, quando a vida “apenas” virou um inferno, tantas outras vítimas seguem o caminho de experimentar o papel de agressor buscando reconstruir a autoestima dilacerada… dilacerando a de outros, num ciclo perverso que não funciona. Mas talvez a perda tenha sido tão grande que os agressores nem sequer conseguem perceber que isso não os alivia.

Independentemente da causa ou dos atenuantes, nenhum comportamento de bullying pode ser tolerado. Nesse combate, urgentemente necessário, campanhas de conscientização, leis e punições são colocadas em pauta, eventualmente desconsiderando que a detecção acaba se tornando possível só quando o problema já se tornou grave. São armas para combate de algo que não está na superfície.

A repetição de intimidação deliberada (definição de bullying) só acontece em terreno fértil; em grupos não desenvolvidos emocionalmente. Agressores e testemunhas não foram educados para conviver com a diversidade e/ou são vítimas de uma sociedade de consumo que valoriza a aparência e o “ter”.

O paradoxo é que viver num ambiente livre de bullying é extremamente mais agradável para todos. Criar esse ambiente é o desafio de professores, que certamente também seriam beneficiados. Muito mais eficaz do que combater com armas, é investir diariamente em educação emocional, para que seja possível aceitar cada um como ele é, comunicar-se considerando os sentimentos do outro e nutrir relacionamentos saudáveis. Não partir do suposto de que todos precisam ser nossa imagem e semelhança e aceita-los em sua individualidade, mesmo quando não concordamos com eles, é um instrumento não de combate, mas de erradicação do bullying. *Por Tania Paris
Tania Paris fundou a ASEC – Associação pela Saúde Emocional de Crianças, em 2004, www.asecbrasil.org.br